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Black Lives: Maria Beatriz Nascimento, a historiadora e ativista na luta pela identidade e resistência negra

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Uma trajetória de valorização da cultura afro-brasileira e luta contra o racismo e a exclusão social

Maria Beatriz Nascimento (1942-1995) foi uma intelectual, historiadora, ativista, roteirista e professora brasileira, destacada por seu trabalho em torno das questões raciais e do protagonismo da mulher negra no Brasil. Sua obra acadêmica e sua atuação política contribuíram de forma fundamental para a compreensão das experiências da população negra, especialmente das mulheres negras, e dos processos históricos de exclusão e resistência.

Sergipana de Aracaju, Beatriz Nascimento mudou-se para o Rio de Janeiro ainda jovem. Estudou História na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e, desde então, dedicou-se ao estudo das relações raciais no Brasil, especialmente no contexto da diáspora africana. Sua pesquisa abordava temas como quilombos, resistência negra, e a memória das populações afrodescendentes. Um dos pontos centrais de sua obra foi a ideia do quilombo como um espaço de liberdade e resistência, não apenas no período colonial, mas também como um conceito vivo e aplicável à realidade contemporânea.

Beatriz foi uma voz ativa dentro dos movimentos negros no Brasil, especialmente nos anos 1970 e 1980, quando houve um crescimento na organização de ativistas negros em resposta à opressão racial. Sua atuação acadêmica não estava dissociada de sua militância. Ela entendia que o conhecimento histórico e a produção intelectual eram ferramentas poderosas de luta contra o racismo e a marginalização.

Além de sua contribuição acadêmica, Beatriz Nascimento também se destacou no campo cultural, sendo roteirista do documentário “Ori” (1989), dirigido por Raquel Gerber. O filme é uma obra marcante que traça as trajetórias das lutas negras no Brasil e na África, e reflete sobre a questão da identidade negra e da resistência ao racismo. No documentário, Beatriz expressa sua visão sobre a importância de uma reconstrução identitaria para as populações negras, entendendo a cultura, a história e a memória como armas de empoderamento.

Infelizmente, sua vida foi interrompida tragicamente em 1995, quando foi assassinada enquanto tentava defender uma amiga de um ato de violência doméstica. Apesar de sua morte prematura, seu legado permanece influente. Sua obra é referência para estudos sobre raça, gênero e resistência, especialmente no campo dos estudos sobre a diáspora africana e a história das mulheres negras no Brasil.

Beatriz Nascimento é lembrada como uma mulher à frente de seu tempo, cuja visão crítica e humanista inspirou e continua a inspirar gerações de acadêmicos, ativistas e militantes do movimento negro. Sua luta pela valorização da identidade negra e pela construção de uma sociedade mais justa e igualitária a coloca como uma das figuras mais importantes na história do movimento negro no Brasil.