O emprego do hífen sempre foi motivo de dúvidas para muitos usuários de nossa língua portuguesa. Lembro o dia (ou lembro-me do dia) em que minha mãe, excelente professora de inglês, explicava à irmã a escrita da palavra “contrafilé “ cuja grafia para esta exigiria o hífen. O gênero causador dessa questão é a receita culinária. Alguns falarão com seus botões:
– Quanta bobagem se o foco era uma suculenta receita!
Pode ser, meus caros, mas para quem ganha a vida lecionando qualquer motivo é um “prato feito” para dar uma “aulinha”! Será o furor pedagógico ou o vício de desejar lançar luz ao outro, tido como um aluno, que se encontra ausente de luminosidade?
“Não sei, só sei que é assim”, diriam Chicó (aquele memorável personagem de Auto da Compadecida) e qualquer, qualquer educador (a).
Minha tia fez o mesmo (- Afinal, para que saber regras de uso do hífen? – pensou ela). Minha mãe, todavia, iniciou sua “aula” explicando à agora “aluna-irmã” o porquê da ausência do hífen no verbete “contrafilé”. Não satisfeita, a professora Marly indicou à Marylena o aplicativo VOLP “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”, que, segundo aquela, é uma ferramenta extremamente útil para se consultar no próprio celular. (Concordo plenamente com mamãe). Retomando a explicação, a “teacher” disse à sua aluna:
– Lena, para usar o hífen em palavras cujo primeiro termo é o prefixo “contra”, é necessário que o segundo termo seja iniciado por “a” ou por “h”. Observe estes exemplos: contramão, contradizer, contracheque e o próprio contrafilé. Já em contra-abertura (termo usado na medicina para definir abertura ou incisão feita em sentido ao de outra anteriormente feita), contra-acusar (responder a uma acusação de alguém, acusando-o), contra-hormônio e contra-haste, o hífen é necessário.
– Irmã, você acha mesmo que eu vou decorar essa regrinha?
– Poxa, Lena! O que fará, então?
– Eu já tenho a solução! É bem simples e muito mais prática do que esse monte de regras. Vou mudar a proteína da receita e fazer um saboroso prato com alcatra. Satisfeita?!
Não acredito no que estou ouvindo….
E, assim, a minha amada mãe Marly Margareth teve uma crise de risos e a irmã deu parabéns pela inteligente saída dada ao impasse culinário-ortográfico.
Meus caros leitores, espero que apliquem essa regra todas as vezes em que estiverem escrevendo uma receita em que seja usado o “contrafilé”. Sugiro, como acompanhamento, o preparo de um delicioso arroz à piamontese. Ih, agora o problema será o acento grave… Deixemos esse assunto para uma outra refeição ….