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Bombardeios de Israel provocam deslocamento em massa e necessidades humanitárias urgentes no Líbano

Organização amplia resposta e mobiliza equipes para prestar assistência a deslocados, que são mais de 1 milhão em todo o país

O Líbano vive a maior escalada de um conflito desde a Guerra do Líbano de 2006, com cerca de 1.300 pessoas mortas entre 16 de setembro e 1º de outubro, de acordo com o Ministério da Saúde. Segundo as autoridades, os intensos bombardeios israelenses forçaram mais de 1 milhão de pessoas a fugir de suas casas. Médicos Sem Fronteiras (MSF) ampliou a resposta de emergência e mobilizou equipes em todo o país para fornecer suporte médico e psicossocial urgente.

Na madrugada de segunda-feira, 23 de setembro, o exército israelense lançou uma operação militar de grande escala, visando dezenas de cidades nas províncias do Líbano, incluindo o Sul do Líbano, Nabatieh, Baalbek-Hermel e subúrbios ao sul de Beirute. Em 27 de setembro, novos bombardeios resultaram em deslocamento em massa dessas áreas, assim como de partes da província do Monte Líbano.

Até 29 de setembro, as autoridades libanesas estimam que mais de 1 milhão de pessoas haviam sido deslocadas, principalmente do sul do Líbano e dos subúrbios densamente povoados do sul de Beirute. Em todo o país, existem atualmente 875 abrigos, mais de 70% deles lotados.

“As famílias estão fugindo de suas casas em busca de segurança. Muitas delas estão buscando refúgio em abrigos superlotados e despreparados”, diz a Dra. Luna Hammad, coordenadora médica de MSF no Líbano. “As pessoas que foram deslocadas são muito vulneráveis—crianças, mulheres, idosos e pessoas com deficiências físicas—vivendo em condições terríveis, com acesso limitado à água potável, saneamento e serviços básicos de saúde. As necessidades são enormes.”

Resposta de MSF: clínicas móveis, ajuda essencial, suporte à saúde mental

MSF ampliou a resposta de emergência e enviou várias equipes médicas móveis, incluindo médicos, enfermeiros, psicólogos, conselheiros e promotores de saúde, para escolas e outros abrigos em todo o país. Essas equipes forneceram mais de 1.780 consultas médicas gerais na semana passada e continuam a fornecer assistência a pessoas e famílias deslocadas, e mais equipes estão a caminho para chegar às áreas que precisam de apoio.

Além disso, MSF está doando itens essenciais, como colchões, cobertores e kits de higiene, para famílias deslocadas. Também estamos distribuindo refeições e água potável. Até 2 de outubro, MSF havia doado 6.523 kits de higiene, 16.118 litros de água potável, 643 colchões, 699 cobertores, 7 mil litros de combustível para hospitais e 713 mil litros de água para abrigos em todo o país.

“Meus filhos me dizem que prefeririam morrer sob bombardeio do que viver assim. A escola tremeu a noite toda. Nós nos consideramos seguros aqui por enquanto, mas e se Israel decidir atacar escolas?”, diz Alia (nome alterado para proteger o anonimato).

Para dar suporte às unidades de saúde, MSF havia pré-posicionado mais de 10 toneladas de suprimentos médicos em hospitais desde o início de novembro passado. A organização enviou uma unidade médica móvel para fornecer cuidados de saúde primários, primeiros socorros psicológicos e promoção de saúde para comunidades deslocadas e afetadas no sul do Líbano. Nossas equipes também conduziram treinamento de preparação para incidentes com vítimas em massa para 117 profissionais de saúde em hospitais em todo o país.

Comunidades deslocadas enfrentam traumas

Em Baalbek-Hermel, onde MSF possui há mais de 13 anos um projeto com duas clínicas de saúde primária, a recente escalada de violência forçou o fechamento de uma clínica, enquanto outra continua a operar com capacidade limitada.

Apesar das condições desafiadoras, as equipes forneceram medicamentos essenciais para pacientes com doenças crônicas, para garantir um estoque de dois meses. Muitos de nossos funcionários na província, como milhares de pessoas em todo o país, ainda estão se abrigando em meio a ataques aéreos. Nossa clínica em Burj al Barajneh, ao sul de Beirute, também foi fechada por causa de bombardeios na área.

As equipes médicas móveis de MSF em Beirute, Monte Líbano e Trípoli estão atendendo pacientes com doenças crônicas que fugiram de suas casas sem seus medicamentos e não conseguiram acessar o tratamento por vários dias. “Muitas das pessoas deslocadas são crianças lidando com o trauma da violência, o medo dos bombardeios e a perda de suas casas”, acrescenta a Dra. Hammad.

As equipes de saúde mental de MSF estão testemunhando imensas necessidades de apoio psicológico e psicossocial. Nossos psicólogos e conselheiros estão fornecendo primeiros socorros psicológicos para as pessoas que foram deslocadas, enquanto nossas linhas telefônicas de apoio estão recebendo mais de 100 chamadas diárias de pessoas que enfrentam crescentes desafios de saúde mental em meio ao medo e ao deslocamento.

Protegendo civis e profissionais de saúde

MSF está profundamente preocupada com a série de bombardeios, muitos dos quais têm como alvo áreas urbanas densamente povoadas. Pedimos a proteção de civis, profissionais de saúde, instalações médicas e ambulâncias. De acordo com a OMS e o Ministério da Saúde libanês, mais de 50 profissionais de saúde foram mortos nos confrontos desde outubro passado. Muitos funcionários de MSF no Líbano estão deslocados; alguns perderam entes queridos ou têm membros da família que ficaram feridos.

A crise atual colocou uma pressão imensa sobre as estruturas de assistência médica e de resposta humanitária do Líbano, já sobrecarregadas por anos de crise econômica. Com muitas pessoas ainda nas ruas, em áreas abertas e até buscando abrigo na praia em Beirute, as necessidades humanitárias continuam a crescer. Com a chegada do inverno, as condições severas colocam essas pessoas em risco ainda maior. As equipes de MSF continuam comprometidas em fornecer suporte médico e psicossocial urgente aos afetados.

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