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Versos & Diversos: Miolo de pote, na terra dos Papa Chibés

 Ver-o- Peso é uma região de Belém onde foi construído um porto pelos ingleses no final do século XIX, para exportação do látex. A maior feira a céu aberto da América Latina completou 397 anos em março deste ano de 2024 — uma das 7 Maravilhas do Brasil. 

          Recebeu o nome de Ver-o-Peso porque no local funcionava um posto fiscal, onde os portugueses verificavam o peso das mercadorias. Nos dias de hoje, concentra quase tudo de que a população necessita para sobreviver, além de grande variedade de produtos típicos do Pará. 

          Ver-o-Peso é deleite! Situa-se à beira do rio Guajará, que banha a costa do estado. Cada pedaço desse local abriga a venda de uma especificidade. Encontram-se desde roupas, redes, panelas, talheres, plantas, farinhas paraenses, temperos, como o tucupi, feijões, pimentas da região, animais vivos ou abatidos, sementes de árvores e de frutas típicas, pirarucu e camarão seco, queijos do marajó, cachaças e licores, alguns com jambú, que vale a pena experimentar, verduras e legumes, frutas, sucos de frutas típicas, como os de cupuaçu, bacuri, graviola, taperebá, muruci e, claro, o açaí paraense, a castanha do Pará, até os bombons da terra. 

          Há locais para degustar sabores como o açaí paraense, servido com farinha e camarão seco, peixes amazônicos, fresquinhos, fritos na hora; o pato ao tucupi, a famosa maniçoba, caruru e a castanha do Pará, oferecida fresquinha, ou seja, retirada do ouriço, descascada à sua frente e servida. 

          Também se encontra vasta amostra do artesanato indígena, isto é, cerâmicas marajoaras, paneiros e cestas diversas, cuias de todos os tipos e tamanhos, além de adornos, feitos com a famosa raiz do patchouli. Troços e trecos, em uma diversidade que encanta os olhos, provoca desejos e atrai turistas. 

          O que dizer do famoso espaço das ervas? Hum!…Aqui nos envolvemos com o misticismo e a crendice, em verdadeira magia. Encontramos coisas que certamente nunca imaginamos, desde receitas para todos os males da vida, sejam relacionados ao amor ou a saúde, às garrafadas medicinais que prometem curas, poções milagrosas, como, por exemplo, o Viagra natural, dentre outros, feitos com antigas receitas indígenas, ou, até mesmo, testadas pelos vendedores nativos, a perfumes especiais. 

          A diversidade é grande, e conversar com as mulheres do local, que comercializam os perfumes e se vestem brejeiramente, resulta em informações ricas e boas risadas. São oferecidos, como atrativos, embalados nos antigos vidros de penicilina, amarrados em barbantes, formando verdadeiras cortinas decorativas para as barracas. 

          Elaborados com ervas da região, vão desde o agarra-marido, chora-nos-meus-pés, atrativo do amor, faz-querer-quem-não-me-quer, chama-dinheiro, afasta-mau-olhado, comigo ninguém pode, até o feitiço da Amazônia — uma riqueza de ofertas e conhecimentos. Vendem também águas de cheiro para banhos específicos. 

          E a fala desse povo, tão diferente! Recheadas de termos típicos, verdadeiro regionalismo! Colecionei alguns, transitando pelos becos e ruelas apertados entre as bancas, papeando com vendedores, nesse famoso Mercado popular:

          No Mercado não tem mosquito e sim “carapanã”, pregador é “mola”, zíper, “eclair”, bandeja, “charão”. As pessoas não ficam aflitas, e sim “agoniadas”; se nervosas, “apoquentadas”, se bravos estão “azuretados”, se alguém faz confusão é”arengueiro”, se precisa que alguém o espere, diz: “Pera ainda”, barulho é “zoada”, e se a pessoa não tem graça é “xoxa”, se está torto, está “troncho”, e sem dinheiro, “na pindaíba”, se tem poucos recursos é “fuleiro”. 

          Esse palavrear é vasto e, muitas vezes, torna as conversas interessantíssimas. Meus ouvidos pensam: Onde estou? A curiosidade não deixa que me afaste e escuto conversas, um vendedor falando com outro: 

— Estou com curuba, acho que foi veneno de sapo, estou acanhado com tanta comichão!

— Fique a locé, parceiro, pra se coçar, mas o vizinho está te zoiando de banda. Te cuida!

Sentados na mureta, outros dois conversavam:

— Deixa de pavulagem, eu sei que ela não te dá trela, também você parece um mocorongo!

— Sumano, cumequié, vou dar um caquiado, lisar a roupa, me emperiquitar, quero ver só se a abestada não cede, senão vou caboquear. Égua, botaram pissica em mim!

          Certamente vocês querem viver mais o Ver-o-peso… Fica para a próxima crônica, porque estou apoquentada e para não ficar despirocada ou destabocada, é melhor parar. 

Aff! Babau, borimbora mano! Morreu aí!

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