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Direito da Mulher: A palavra da vítima como prova na violência doméstica: perspectivas e desafios

A violência doméstica é um fenômeno complexo que afeta milhares de pessoas, principalmente mulheres, em todo o mundo. No contexto jurídico brasileiro, a palavra da vítima ganha força como prova em processos judiciais devido à dificuldade de obtenção de outras provas, como testemunhas e registros materiais, especialmente em ocorrências que acontecem no ambiente doméstico.

A Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006) representa um marco na defesa dos direitos das vítimas de violência doméstica, incluindo o reconhecimento da palavra da vítima como um meio de prova relevante. A doutrina entende que a palavra da vítima deve ser tratada com cautela, mas com a devida importância, considerando que o ambiente doméstico frequentemente impede a produção de provas documentais ou testemunhais. Entretanto o Superior Tribunal de Justiça (STJ) consolidou em sua jurisprudência o entendimento de que a palavra da vítima, quando coerente e corroborada por outros elementos indiciários, tem significativa força probatória em processos de violência doméstica. O STJ considera que, devido à relação de proximidade entre vítima e agressor, o testemunho da vítima é crucial para estabelecer a verdade dos fatos.

A doutrina jurídica também aponta que a palavra da vítima precisa ser analisada em conjunto com outros elementos, como laudos médicos, boletins de ocorrência e antecedentes do agressor, para evitar erros judiciais e garantir um julgamento justo. Autores como Maria Berenice Dias destacam que a violência doméstica frequentemente não deixa marcas físicas visíveis, dificultando a obtenção de provas materiais, o que aumenta a importância do depoimento da vítima.

Embora o valor probatório da palavra da vítima seja reconhecido, o uso isolado desse testemunho como única prova em processos de violência doméstica levanta preocupações quanto à imparcialidade e à segurança jurídica. A doutrina e a jurisprudência concordam na importância de que outros elementos probatórios sustentem a palavra da vítima sempre que possível, reduzindo o risco de decisões baseadas exclusivamente em um testemunho que pode  ser passível de manipulação. Desta forma, em casos de violência doméstica, a imparcialidade do juiz é essencial para garantir um julgamento justo, mas, muitas vezes, enfrenta desafios. Devido à complexidade do tema e à pressão social, alguns juízes podem dar mais peso à palavra da vítima, especialmente em contextos com altos índices de violência doméstica, o que pode comprometer a imparcialidade.

Para evitar isso, é fundamental uma formação contínua dos profissionais da Justiça, de modo que sejam capazes de equilibrar a proteção à vítima com o devido processo legal para o acusado. O sistema deve assegurar provas adicionais e uma análise cuidadosa para que a palavra da vítima seja valorizada de forma justa, promovendo um julgamento equilibrado e a verdadeira justiça. Sendo assim, é  importante que os julgadores mantenham o equilíbrio entre valorizar a palavra da vítima e buscar outros elementos probatórios, promovendo justiça e proteção à vítima, sem abrir margem para condenações injustas, evitando desta forma denúncia caluniosa.

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