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A Academia Brasileira de Cordéis é carioca!

 

Sede da ABLC fica em Santa Teresa, onde é possível encontrar cordéis raros e outros que falam de ciências.

Da cultura nordestina, um dos pontos mais conhecidos é a famosa Literatura de Cordel. O Cordel são pequenos livretos cujo conteúdo são poemas, geralmente no formato de sestilha, em que cada estrofe é formada por seis versos e cada verso deve ter sete sílabas Poéticas (Heptassílabos). Esse tipo de livreto recebeu este nome por ser exposto pelos próprios autores preso por pregadores em cordas, por isso, ‘cordel’.

Este movimento literário também recebeu influências dos cordéis portugueses, durante o período colonial. O cordel ficou rapidamente popular nos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. Com as capas e ilustrações feitas por xilogravuras (uma espécie de carimbos talhados em madeira) e papel sulfite, esses livretos tem uma produção barata, por isso, geralmente eram produzidos e vendidos pelos próprios autores em feiras.

Dos nomes mais conhecidos do cordel, Patativa do Assaré, Zé da Luz e João Martins de Athayde são os autores mais conhecidos do gênero literário. Mas aí vem a pergunta: o que um traço da cultura nordestina tem haver com o Rio de Janeiro?

Isso porque a Academia Brasileira de Literatura de Cordel – a ABLC – foi fundada no Rio de Janeiro, em Santa Teresa, em 7 de setembro de 1988. A ABLC teve três fundadores: o presidente, Gonçalo Ferreira da Silva, o vice, Apolônio Alves dos Santos e o diretor cultural, Hélio Dutra, após a aprovação e reconhecimento pela Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro na época.

Mas, antes, durante os Anos 70, Gonçalo Ferreira, poeta cordelista radicado no Rio, fundou uma pequena banca de cordel na Feira de São Cristóvão, onde divulgava esta literatura em terras cariocas.  Essa banca passou a atrair entusiastas e pesquisadores de cordel que estavam perdidos pela cidade, se tornando assim um ponto de encontro importante para os cordelistas.

Outro precursor da academia foi o poeta paraibano Raimundo Santa Helena, também radicado no Rio de Janeiro, que fundou a “Cordelbrás”, também na Feira de São Cristóvão. Santa Helena também concorreu a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras, mas sem sucesso.

Mesmo com a banca de Gonçalo, a ABLC teve bastante dificuldade de encontrar uma sede definitiva. Além da feira, seus membros e entusiastas se encontram em bares, lanchonetes, restaurante e até no gabinete de um político, que era fã de cordel. Mas foi somente com o apoio de Federação das Academias de Letras do Brasil – a FALB – que a ABLC passou a ter encontro regulares e posteriormente ganhou a sua tão esperada sede no bairro de Santa Teresa. O lugar que mais tem artistas populares por metro quadrado no Rio.

O intuito da entidade literária é resgatar a memória da literatura de cordel, reunir os expoentes cordelistas e aprofundar pesquisas sobre essa manifestação popular, a mantendo viva na cultura brasileira. Graças ao seu trabalho de resgate e manutenção, os cordéis passaram a integrar o currículo da faculdade de letras da Universidade de Coimbra. Praticamente o “caminho de volta” do estilo originado em Portugal.

Seu presidente e fundador Gonçalo Ferreira faleceu em 2022, mas a ABLC continua operando firme e forte com 40 membros e mais 13 mil obras de cordel em seu acervo. Na sede, além de pode encontrar cordéis raros, há uma grande variedade de livros neste estilo, como a coleção Ciência em Versos de Cordel, o Dicionário Brasileiro de Literatura de Cordel e os 100 Cordéis Históricos, disponíveis para venda.

A Academia Brasileira de Literatura de Cordel fica na Rua Leopoldo Fróes, 37, em Santa Teresa e funciona nos dias úteis, de das 9 às 18h.

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