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A aglomeração, o desrespeito a protocolos e a demonstração de força política de Bolsonaro

O passeio de moto realizado pelo presidente Jair Bolsonaro por ruas do Rio de Janeiro gerou muita repercussão e ainda tem dado muito o que falar. Ao mesmo tempo em que foi alvo de duras críticas, por opositores e até mesmo por apoiadores, por causar grande aglomeração em meio à pandemia da Covid-19 e por não usar máscara, ele demonstrou também uma grande força política pela quantidade de pessoas que o seguiram.

O passeio no Rio aconteceu no dia 23 de maio, organizado por apoiadores e divulgado nas redes sociais do presidente. Do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, zona Oeste do Rio de Janeiro, Bolsonaro e os incontáveis motociclistas, muitos também sem máscara, seguiram até o Monumento dos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, na Zona Sul. O trajeto foi de cerca de 60 quilômetros, completados pelo grupo em cerca de 1h30. No dia 9 de maio, o presidente também realizou um passeio de moto semelhante em Brasília.

Passeio de moto na cidade do Rio de Janeiro reuniu milhares de pessoas. (Foto: Alan Santos/PR)

No Rio, a segurança da motociata envolveu a Polícia Rodoviária Federal e Polícia Militar. Ao longo do percurso, havia grupos de apoiadores reunidos à beira das ruas por onde a comitiva passou, além de apoiadores nos pontos de partida e de chegada. O presidente, inclusive, além de ignorar as recomendações das autoridades de saúde, contrariou (mais uma vez) uma norma instituída por ele mesmo: a lei que que tornou obrigatório o uso de máscaras em território nacional, sancionada por ele em julho do ano passado.

A atitude repercutiu mal não só no meio político: um grupo formado por artistas, intelectuais, humoristas, apresentadores e cantores protocolou no dia 24, na Câmara dos Deputados, um pedido de impeachment do presidente. Assinam o documento, por exemplo, o cantor Chico César, o ex-jogador Walter Casagrande, a apresentadora Xuxa Meneghel, o youtuber Felipe Neto, o humorista Fábio Porchat e o escritor Raduan Nassar, que elencam uma série de atos praticados por Bolsonaro durante a pandemia e dizem que o presidente cometeu crime de responsabilidade. Cabe ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), decidir se aceita ou não o pedido.

Apoio e força política

Presidente Jair Bolsonaro durante passeio de moto na cidade do Rio de Janeiro. (Foto: Alan Santos/PR)

No dia da motociata, a hashtag #BolsoInRio ficou entre as mais comentadas no Twitter. Além disso, o mar de motociclistas reunidos por Bolsonaro deixou muita gente surpresa. Isso porque foi uma demonstração de força política que contraria e põe em dúvida inclusive resultados apresentados recentemente por pesquisas eleitorais realizadas visando a eleição de 2022 que colocam o presidente em segundo lugar na briga pela reeleição.

Depois da passeata, o presidente ainda discursou para os apoiadores, próximo ao Monumento Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, popularmente conhecido como Monumento aos Pracinhas. Ele lamentou as mortes ocorridas no Brasil e defendeu a liberdade e a democracia. “Lamento cada morte, não importa a motivação da mesma. Mas nós temos que ser fortes, nós temos que enfrentar desafios, viver e sobreviver”, disse.

O presidente também aproveitou para criticar medidas de isolamento de estados e municípios e ressaltou que “o poder do povo brasileiro é maior do que o dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário”.

“Desde o começo eu disse que tínhamos dois problemas: o vírus e o desemprego, muitos governadores e prefeitos simplesmente ignoraram a grande maioria da população brasileira e sem qualquer comprovação científica decretaram lockdowns, confinamentos e toque de recolher. Nós não tiramos o emprego de ninguém, muito pelo contrário, fizemos o possível para que eles fossem mantidos. Estamos ainda em um momento difícil, mas se Deus quiser, logo ele passará. Temos que viver, temos que ter alegrias também, temos que ter ambições, temos que ter esperança. Nós faremos tudo para que a vontade popular seja realmente efetivada”, disse Bolsonaro.

Também acompanharam o presidente políticos e autoridades como o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e o deputado federal Marco Feliciano (Republicanos-SP). O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello também esteve presente.

Prefeitura e governo do estado evitaram assunto

Prefeito Eduardo Paes disse que povo deve decidir sobre punição a Bolsonaro. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Acostumados a dar mal exemplo também na pandemia, com aglomerações e outros flagrantes, o prefeito Eduardo Paes e o governador Cláudio Castro evitaram falar sobre a motociata de Bolsonaro, mesmo com o evento tendo sido realizado com a cidade ainda com risco alto de contágio, conforme classificação do governo do estado, e em desacordo com decretos vigentes no município e no estado que determinam uso de máscaras em locais públicos e veto a aglomerações.

Paes, recentemente multado pela própria prefeitura em R$ 562,42 após ser flagrado numa roda de samba em um bar no Centro do Rio sem máscara, disse apenas que o povo é quem precisa avaliar se Bolsonaro deve ser multado. “O presidente é a principal autoridade do Brasil. Ele vai ser sempre bem-vindo no Rio de Janeiro, e nós não vamos ficar nesse joguinho de multa, né? O presidente tem essa responsabilidade, ele pode avaliar”, disse.

Já Cláudio Castro, que também causou aglomerações com eventos oficiais no mês passado e que, em março, comemorou seus 42 anos com uma festinha particular com várias pessoas sem máscara em Petrópolis, sequer se manifestou. Um dia depois da motociata de Bolsonaro, inclusive, o deputado federal David Miranda (Psol-RJ) protocolou uma representação no Ministério Público Estadual (MPRJ) contra o governador para que ele seja investigado por improbidade administrativa “por ter causado danos ao erário público ao mobilizar cerca de mil policiais para o evento”.

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