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A Bíblia como ela é: Agar: vista pelo Deus que vê

Foto: Reprodução

A história de Agar, registrada em Gênesis, é uma das narrativas mais fortes e emocionantes da Bíblia. Agar era uma serva egípcia de Sara, esposa de Abraão. Quando Sara não conseguia engravidar, entregou sua serva ao marido para gerar um filho em seu lugar, prática comum na época. Agar, então, concebeu e deu à luz Ismael. No entanto, após a gravidez, começaram os conflitos: Agar se sentia em posição privilegiada e Sara, enciumada e insegura, passou a tratá-la com dureza.

Ferida, humilhada e desesperada, Agar fugiu para o deserto. É nesse cenário de solidão e dor que a história ganha um brilho especial: o Anjo do Senhor aparece a ela e a chama pelo nome. Isso já é significativo. Agar não era a esposa, não era a protagonista da promessa, não era a herdeira dos planos de Deus para Abraão. Ela era a estrangeira, a escrava, a invisível. Mas Deus a vê. Ele não apenas a vê, como lhe dá esperança, promete que sua descendência também seria numerosa e lhe assegura que sua vida e a de seu filho tinham propósito. Diante dessa experiência, Agar dá a Deus um nome inédito: “Tu és o Deus que me vê” (El-Roi).

Trazendo essa narrativa para os dias atuais, quantas pessoas não vivem como Agar? Pessoas que se sentem descartáveis, usadas e depois rejeitadas. Quantas mulheres enfrentam abandono, solidão, gravidez sem apoio, ou são reduzidas a papéis que não reconhecem sua dignidade? Quantos imigrantes, trabalhadores invisíveis e marginalizados carregam a sensação de não terem lugar nem valor?

Agar nos lembra que Deus enxerga justamente quem a sociedade não vê. Ele olha para os que se sentem invisíveis, ouvem o choro dos que estão sozinhos e caminha junto aos que estão no “deserto” da vida. A história também é um convite para que nós, como pessoas de fé, aprendamos a enxergar o próximo. É fácil ver Abraão, o homem da promessa. É natural ver Sara, a esposa legítima. Mas será que estamos atentos a Agar? Será que percebemos aqueles que sofrem calados ao nosso lado?

O Deus que se revelou a Agar continua sendo o mesmo hoje. Ele é o Deus que vê a mulher que cria os filhos sozinha, o homem que perdeu o emprego, o jovem que luta contra a depressão, o idoso esquecido, o imigrante sem pátria, a criança que sofre rejeição. Ele continua sendo El-Roi, o Deus que olha, que reconhece, que cuida.

Assim, a história de Agar não é apenas um relato antigo, mas um lembrete atual e necessário: ninguém é invisível para Deus. E se Ele nos vê, somos chamados também a ver, acolher e amar aqueles que estão à margem. Porque, para o Senhor, cada vida tem valor eterno.

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