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A Bruxa sob o Arco do Telles

Arco do Telles atualmente - Fonte Free Walking Tour Rio de Janeiro

 

Ponto na Praça XV é conhecido por ser mal assombrado por uma antiga personalidade carioca que a história não apaga

O Arco do Teles é como uma estrutura no qual é possível fazer uma viagem no tempo, mesmo que na prática, sirva para ligar a Praça XV a emblemática Rua do Ouvidor. Sua construção remete ao século XVIII, mas precisamente ao ano de 1740, quando se foi construída a Casa dos Governadores, atualmente, o Paço Imperial, que valorizou muito a região.

Morador próximo a Casa dos Governadores e entusiasmado com o trabalho se seu arquiteto, José Alpoim, o juiz português Francisco Telles de Menezes encomendou a construção de uma casa ao lado do que hoje é o Paço Imperial, lado oposto da praça. Alpoim então construiu uma luxuosa mansão para os padrões da época, estruturada em cima de um arco que permitia a passagem entre a Praça XV e o Beco do Comércio (ponto na Rua do Ouvidor).

Foi daí que surgiu o Arco do Telles, que levou o nome de seu primeiro proprietário. A família Telles de Menezes viveu sob o arco até 1759, quando a casa passou a ser usado pelo Senado da Câmara. Porém, um incêndio em 1790 destruiu o prédio e o arquivo do Senado, o que causou a perda de importantes documentos históricos sobre as doações e posses de terra na cidade. Todavia, o arco resistiu e seus prédios chegaram a ser restaurados, porém, os políticos saíram de vez dali e o local foi ocupado por moradores de rua, malandros e prostitutas.

A partir deste ponto, o Arco do Telles acabou virando palco de várias lendas urbanas no Rio de Janeiro. A mais emblemática de todos envolve Bárbara dos Prazeres, a Bruxa Macabra ou “A Onça”. De muitos nomes e apelidos, Bárbara é uma bruxa carioca, cuja história é de arrepiar.

Bárbara Vicente de Urpia era de Portugal e antes mesmo de vir para as terras auriverdes, já havia cometido crimes: assassinou a própria irmã. Outras fontes dizem que Bárbara foi amante de Dom João VI, que era casado com Dona Carlota Joaquina da Espanha. Seja qual for a verdade, dizem que Bárbara se casou com o fidalgo viúvo António de Urpia e se mudou com o marido para o Brasil, para despistar a sociedade portuguesa.

O casal ocupou justamente uma das casas sobre o Arco do Telles por volta de 1790, antes do tal incêndio. Como António tinha um cargo importante no reino, Bárbara fez parte da alta sociedade carioca, onde sua beleza e sensualidade chamavam a atenção. Porém, ela se apaixonou por um jovem brasileiro e vendo seu marido como obstáculo, o assassinou friamente, com uma punhalada na nuca, enquanto António dormia.

Bárbara não chegou a ser condenada pelo crime, que foi imputado a outra pessoa. Pode ter escapado da justiça, mas não da condenação da sociedade de elite, que a expurgou de seus salões luxuosos. Mesmo não podendo ser vista no mesmo lugar que a elite, nem por isso deixou de ter contato com a mesma: a falta de sustento a fez se tornar uma prostituta de luxo. 

Não satisfeita com o atual amante, Bárbara o matou também um punhal, da mesma forma que matou o marido. E também escapou da justiça. Com dois assassinatos impunes, muitos passaram a acreditar que a mulher tinha alguma proteção, se não de um poderoso, de algum sobrenatural. As lendas sobre Bárbara começaram a se formar.

Daí veio o incêndio, a destruição da casas luxuosas e o Arco do Telles virou a moradia dos proscritos cariocas. Bárbara se juntou a eles, quando a velhice e doenças foram lhe tirando a beleza de seu corpo. Era tão predatória com os “clientes” que ganhou o apelido de Onça. Era chamada de Bárbara dos Prazeres também porque havia uma oratório com uma imagem de Nossa Senhora dos Prazeres no beco, no qual Bárbara afirmava ser protegida pela santa.

Contudo, Bárbara perdia para as prostitutas mais jovens. E para tentar preservar sua juventude, passou a recorrer a magia negra, por meio de banho de ervas e consumo de sangue humano fresco. Precisamente, de crianças. Enquanto Bárbara era moradora do Arco do Telles, muitas crianças filhas de mendigos e escravos haviam sumido. Bebês deixados pelas rodas dos enjeitados supostamente também foram vítimas de Bruxa Macabra.

Gravura de Bárbara dos Prazeres raptando um recém nascido – Fonte Iconografia da História

Os sacrifícios não deixaram Bárbara mais jovem e bela, pelo contrário: com 40 anos, parecia ter o dobro da idade. As doenças criaram chagas em seu rosto e pele e Bárbara havia ficado corcunda. A imagem asquerosa contribuiu para a fama de bruxa. Talvez o sacrifícios a livraram ao menos da polícia, pois Bárbaras dos Prazeres foi uma das maiores criminosas da época e nunca foi pega.

Em 1830, o corpo de uma mulher foi encontrado boiando em um lago. Não se sabe a causa da morte. Seu rosto estava desfigurado, mas pela descrição, batia com o de Bárbara dos Prazeres. Pelo sim, pelo não, a Bruxa do Arco do Telles nunca mais foi vista, mas dizem que sua alma torturada assombra o lugar até hoje.

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