No coração do litoral do Rio de Janeiro, com suas belas praias, a cidade de Arraial do Cabo, na Região dos Lagos, viveu no início dos anos 60 um momento inusitado e controverso.
Em 6 de junho de 1960, foi inaugurada a fábrica da Taiyo Fishery Company, uma empresa japonesa dedicada à caça da baleia, além da comercialização da carne para consumo.
A inauguração foi feita com a presença de políticos, que prometiam ‘’prosperidade e desenvolvimento’’ para a região.
Houve de fato um momento em que 40% da arrecadação da cidade vinha dos impostos pagos pela Taiyo e pela Álcalis (empresa do setor químico).
A Taiyo gerou uma reviravolta no cotidiano dos moradores de Arraial. Chegaram 2 navios baleeiros do Japão: o Sekimaru e o Fumimaru. As ruas próximas à fábrica foram apelidadas de ‘’Tóquio’’ e ‘’Kioto’’ e o bairro onde a Taiyo se instalou era chamado de ‘’Baleia’’.
Toda essa história está contada no novo livro do escritor e pesquisador Leandro Miranda: ‘’Histórias do Arraial e a Fábrica da Baleia’’. Leandro, conhecido como ‘’Léo do Blimp’’, também é autor de ‘’ K-36 : O Zeppelin que caiu no Cabo’’, que já foi tema aqui da coluna. (https://jornaldr1.com.br/?post_type=post&s=o+zeppelin+que+caiu+no+cabo)
A obra também aborda a luta de Arraial do Cabo para conseguir a emancipação de Cabo Frio e se tornar município, o que foi conquistado em 1985.
E sobre a questão da caça à baleia, embora isso soe ‘’politicamente incorreto’’ hoje (e com razão) é preciso lembrar que na época não havia essa consciência ecológica tão desenvolvida. Implicações ambientais e éticas, que parecem tão evidentes agora, não faziam parte do cotidiano da maioria das pessoas nos anos 60.
O próprio governo brasileiro incentivava o consumo da carne de baleia, através de anúncios publicitários. Alguns deles podem ser vistos no livro.
O autor fez uma pesquisa minuciosa em documentos históricos, fontes primárias e relatos orais de quem viveu tudo isso. O livro revela que japoneses e brasileiros atuavam juntos na fábrica e nos baleeiros.
E apesar de toda esta movimentação e participação na economia, a ‘’fábrica da baleia’’ durou pouco: foi fechada em 1964.
Atualmente, apenas 3 países do mundo ainda permitem a caça à baleia: a Noruega, a Islândia e o Japão. No Brasil, a caça deste cetáceo está proibida por lei desde 1987. Hoje, o único movimento de barcos indo ao encontro destes animais é o que é feito por brasileiros e turistas estrangeiros para ver de perto o ‘’bailar’’ das baleias jubarte e franca, que passeiam por nossas águas em algumas épocas do ano.
“Histórias do Arraial e a Fábrica da Baleia” é um livro que consegue não apenas contar a história de um lugar, seu povo e sua memória coletiva, mas também provocar reflexões sobre temas universais como a evolução das sociedades e a relação do ser-humano com a natureza e os animais.