‘’Oh, Minas Gerais! Oh, Minas Gerais! Quem te conhece não esquece jamais. Oh, Minas Gerais!’’
Os versos iniciais da música ‘’Minas Gerais’’ da dupla sertaneja Tonico e Tinoco são bem conhecidos e representam bem a potência que é este estado.
Minas tem o maior número de municípios do país: 853. É o 2º estado mais populoso, o 2º maior colégio eleitoral e o 4º maior em território. Fora outras riquezas como suas montanhas, minérios, os grandes lagos, as estâncias hidrominerais, a culinária…enfim, impossível realmente conhecer e esquecer!
E falando em “esquecer”, um dos papéis fundamentais do historiador é não deixar o passado cair no esquecimento.
No século XVIII, Minas Gerais era o centro da economia do Brasil, com a mineração de ouro e diamantes sendo a principal atividade econômica da então colônia de Portugal. A riqueza fez a então a província se tornar um polo cultural e intelectual. Esse contexto gerou até uma tentativa de insurreição contra a metrópole, a famosa Inconfidência Mineira que foi sufocada e acabou levando um dos seus líderes, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, à forca.
Na transição para o século XIX, a exploração das jazidas de ouro e diamantes diminuiu decretando o fim do ‘’Ciclo do Outro’’, o que levou ao desenvolvimento do cultivo do café, principalmente nas regiões da Zona da Mata e do Sul de Minas. O estado se tornou um dos maiores produtores de café, a maior “commodity” de exportação do Brasil na época.
A transição da mineração para a agricultura teve impactos: a população aumentou, surgiram novas cidades e vilas e a economia se diversificou.
O século XIX também foi um período de importantes lutas sociais em Minas. Os negros escravizados, que representavam uma grande parte da população, lutaram pela liberdade. Já os trabalhadores rurais reivindicavam melhores condições de trabalho.
Boa parte destes acontecimentos são contados no livro “Olhares Sobre a História de Minas Gerais dos Séculos XVIII e XIX”, lançado em outubro deste ano e organizado pelo historiador Bruno Martins de Castro. O livro é uma importante contribuição para o estudo desse período e reúne artigos de diversos historiadores, pesquisadores e professores com um ponto em comum: todos foram formados, orientados ou inspirados pelo trabalho do renomado professor e historiador Afonso de Alencastro Graça Filho.
Os capítulos abordam vários temas: a produção agropecuária da época, os casamentos entre famílias de escravos, as relações entre senhores, escravos e alforriados, a luta abolicionista e outros aspectos da sociedade no período.
A obra é bem escrita a qualidade dos autores é excelente. Faço questão de citar um deles: o meu amigo Jairo Braga Machado, historiador que foi diretor do Museu Regional de São João del-Rei e atuou no projeto de Revitalização do Museu da Força Expedicionária Brasileira (FEB) na mesma cidade.
O livro é uma leitura muito bem-vinda e essencial para quem deseja conhecer a História de Minas Gerais dos séculos XVIII e XIX.
N.R. :A coluna desta semana é dedicada à memória da minha querida tia Maria Lúcia Cardoso Henriques que desencarnou em 20/10/23. Foi minha professora no curso de Comunicação Social da Universidade Gama Filho e se hoje sou jornalista formado, devo muito a ela. Descanse em paz tia.