Jornal DR1

Alento

O que se ama é o que se dá. A esperança adornada na forma d’uma flor que murchou e somos nós a olhar para ela, controlando o sentimento de culpa que sentimos fora de nós quando as coisas que consideramos belas têm que ser substituídas.

A morte é uma substituição. Um pequeno relógio de pulso branco cujos ponteiros são os braços de um cactus são os meus braços tentando alcançar todos os relógios que já moraram no meu pulso, tentando alcançar todos os copos e seus vazios e suas águas que já passaram por mim. Nós somos uma correnteza de tudo.

Dentro d’água uma saudade da infância me sorri num passarinho pousado em meu ombro, nele uma bandeira. Os organismos que habitam o relâmpago moram nos olhos daqueles cujos pensamentos tentamos modificar. Nós somos uma casa de espelhos.

“Afinal” não existe; o que há é o sopro renovador acima de todo o bem e de todo o mal, enquanto nós averiguamos as modas, buscando nelas, sem saber, a perfeição, o êxtase. Mas as modas são efêmeras. Nossa parte efêmera é dada à escravidão. Dentro da pedra o bloco do
muro no beco da sombra obtusa amarrada numa teia fosca poeirenta abaixo do subsolo, trancados os nossos espíritos que moram em todos os copos vazios, fora de nós e suas águas, fincada a bandeira dos passarinhos em nossos pulsos, queremos leveza. Nós somos a vontade do que é leve.

Andando por aí uma árvore manda um recado e cai uma folha bem diante de mim. Estico e tento pegá-la, ela se esquiva e o Sol brilha nos
fecundando e a folha é um espelho que habita o olhar de todas que leram o que estava escrito nesta saudade, nesta cor; alento.

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