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Alexandre Guimarães, um ator visceral!

Por Alessandro Monteiro

Pernambucano, Alexandre Guimarães é ator brasileiro com formação profissional em audiovisual, com vários trabalhos em publicidade nos estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe e Rio Grande do Norte. Atualmente produz e atua no espetáculo solo “O Açougueiro”, o qual vem tendo excelente resposta de crítica e público.  Também participou de novelas de sucesso na Rede Globo e ganhou importantes prêmios do teatro.

Num país com tantos rótulos e desigualdades, você tem a coragem de subir ao palco para tratar de temas como preconceito, intolerância e feminicídio. É preciso muita coragem né?

Quando algo nos atinge profundamente como o tema violência doméstica e a invisibilidade de suas vítimas, percebo que a dificuldade sobre esses assuntos serve de combustível para a criação do artista. É quase como ação e reação. Somos atingidos por algo e nos defendemos através de nosso trabalho.

E a receptividade do público?

A estreia de “O Açougueiro” aconteceu em Recife e foi fantástica. Depois parti para o interior do estado e foi incrível. Achava que pelo espetáculo se passar no Nordeste seria algo muito local. Mas percebi que era universal quando passei a circular pelo país inteiro e ser muito bem recebido. Percebi que o trabalho se conecta a algo universal: a luta por direitos oprimidos.

Como surgiu a ideia de montar o espetáculo?

Mais uma vez a dificuldade foi a motivação. Havia saído de um grupo teatral o qual fiz parte por muitos anos e não recebia convites para outros espetáculos. Ou seja, não havia trabalho e decidi criar minhas próprias oportunidades.

 

Foto: Lucas Emanuel

 

Esse teatro próximo do ritualístico pode ser considerado uma nova tendência dos próximos anos?

Sinto que o teatro com essa ligação no ritualístico, no simples, quase feito artesanalmente, é uma tentativa de entendermos nossas origens, de onde viemos e assim e entender como chegamos a esse cenário que estamos hoje. O ser humano busca, principalmente hoje, uma vida mais simples e mais consciente.

Você é também referência, quando o assunto é campanhas publicitárias. Como sente o momento atual? Acredita na boa recuperação ou será preciso recriar formas de se comunicar?

A publicidade pode ser uma enorme aliada ao trabalhador das artes cênicas. Comecei a atuar em propagandas desde muito jovem e foi uma escola incrível para aprender a lidar com a câmera e o uso da voz em um microfone. A publicidade vai seguir existindo, sempre seguiu. Ela se adapta e migra para outras mídias como redes sociais, internet, mas se mantém forte. Atualmente faço campanhas para todo o Nordeste e tenho muito orgulho de saber escolher onde emprestar minha imagem e faço sempre com muita dignidade.

A classe artística, dentre tantas outras é considerada a segunda mais prejudicada com a crise da pandemia. Como vem enfrentando isso tudo?

Percebo que na maioria das vezes quando se fala em artista, as pessoas pensam em nomes da TV, estrelas do sertanejo etc. Na verdade, esquecemos de olhar para um infinito de trabalhadoras e trabalhadores anônimos que fazem a indústria cultural no país. Imaginemos como deve estar a vida das famílias de pequenos circos que circulam pelas periferias e interiores, os profissionais da música que trabalhavam em bares a noite, eletricistas que montavam palcos, carregadores que prestavam serviço nos teatros… Sem falar nas pessoas do audiovisual, como camareiras, motoristas, cozinheiras. O ator e a atriz são apenas a pequena ponta do iceberg. E estamos todos derretendo.

 

Foto: Lucas Emanuel

 

Como foi o laboratório para criar um personagem tão expressivo?

Em O Açougueiro interpreto 9 personagens e estou sozinho em cena o tempo todo. O monólogo se passa no sertão e conta a história de um homem pobre. Eu e o diretor Samuel Santos sentimos a necessidade de mergulhar nesse universo para ter mais pertencimento. Fui ao interior conhecer as pessoas que viviam essa realidade na pele. Junto com a preparadora corporal Agrinez Melo, passamos dias visitando matadouros e pequenos criadores. Foi transformador.

Se pudesse realizar um sonho hoje, qual seria?

Tenho um filho de dois anos e espero que ele possa em breve voltar a se encontrar e abraçar seus amigos, avós, que não tenhamos mais medo de uma doença invisível e que ataca nosso melhor lado que é o afeto ao outro.

Ator é?

Poder aprender com seus personagens como ser um ser humano melhor.

Como ator nordestino premiado, certamente você é inspiração para muitos que estão iniciando. Deixaria um conselho?

Acredite no que o seu interior lhe diz. Estude, busque seu espaço com dignidade e jamais se martirize com os nãos que vai receber por esse caminho. Siga.

Foto:  Lucas Emanuel

Temos a sensação de que tudo parou. Nada mais acontecerá esse ano. Concorda? Mas certamente, a esperança caminha lado a lado. Quais novidades podemos esperar para o recomeço?

O mundo como vivíamos foi interrompido, mas a vida sempre nos deixa possibilidades. Em março estava trabalhando em dois espetáculos praticamente às vésperas de estreia. Patrocínios foram cortados e pautas suspensas. Mas sigo em casa relendo os projetos, tentando adequar aos novos tempos. Decidi criar o Teatro Live, uma iniciativa onde realizo leituras dramáticas ao vivo no meu perfil do Instagram semanalmente e convido outros colegas. Uma maneira de seguir trabalhando e levar mais leveza às pessoas.

Três frases?

Via de regra, cada um de nós morre uma única vez. Só o ator é reincidente. O ator ou a atriz pode morrer todas as noites e duas vezes aos sábados e domingos. (Nelson Rodrigues)

Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples. (Manuel Bandeira)

Quando o mundo lhe fechar a porta, arrodeie. (Alexandre Guimarães)

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