Da Redação
Os Andes enfrentam momentos de inquietação. Pelo menos três países estão passando por uma fase delicada. A dissolução do Congresso do Peru, os fortes protestos desencadeados pelo aumento do preço da gasolina no Equador, que em 3 de outubro declarou estado de exceção, e as iminentes eleições presidenciais na Bolívia atraem o foco para uma região acostumada às crises políticas. Os motivos das turbulências, e sua intensidade, são diferentes. No entanto, o coquetel de corrupção, insatisfação social e polarização exacerbada entre Governos e oposição multiplicam a tensão de Quito a La Paz.
O último pavio foi aceso no Equador. A eliminação de um subsídio ao preço do combustível provocou manifestações que levaram o presidente Lenín Moreno a decretar estado de exceção. A medida, embora drástica, tem um caráter preventivo para facilitar as detenções nos episódios de violência. Mas a greve nacional no setor de transporte é mais um reflexo do clima político geral e se enquadra, em última análise, no conflito entre o atual presidente e seu antecessor, Rafael Correa.
Para aumentar a pressão sobre o governo de Moreno, no dia 9 de outubro foi realizada uma greve geral. Duas concentrações na capital, Quito, foram reprimidas com violência pelas tropas militares e policiais. Três marchas ocorreram em Guayaquil, para onde a sede do governo foi transferida, e dezenas de rodovias foram bloqueadas em todo o país. Tudo isso em meio ao toque de recolher e à restrição do movimento em áreas próximas a prédios públicos, determinado na véspera pelo presidente Moreno após manifestantes terem invadido a Assembleia Nacional, em Quito.
No vizinho Peru, o Congresso foi fechado, por meio de decreto publicado em 7 de outubro, pelo presidente Martín Vizcarra. Ele aplicou um artigo da Constituição para pôr fim a uma situação de bloqueio e frear uma manobra voltada para o controle do Tribunal Constitucional, e em seguida convocou eleições legislativas, que serão realizadas no final de janeiro. No entanto, a maioria do Parlamento, dominado pela Força Popular e por seus aliados, tomou uma decisão audaciosa: destituiu − embora de maneira simbólica − o chefe de Estado e nomeou como presidenta em exercício a número dois do Executivo, Mercedes Aráoz. Esta acabou renunciando e seu recuo acalmou as águas, embora não tenha resolvido o problema de fundo. A sociedade peruana assiste há anos diversos casos de corrupção, relacionados principalmente às propinas da construtora brasileira Odebrecht, nos quais estão envolvidos todos os ex-presidentes vivos e a líder da oposição.
O duro conflito entre Governo e oposição também sacode, há mais de uma década, a Bolívia. No dia 20 de outubro o país vai decidir se elege Evo Morales para um quarto mandato. Morales é o último representante daquilo que foi uma espécie de eixo bolivariano na região. O presidente boliviano concorre apesar de ter perdido um referendo sobre a reeleição ilimitada e após ter sido habilitado pelo Tribunal Eleitoral. E o Governo sabe que, se não ganhar no primeiro turno — precisa obter mais de 50% dos votos ou alcançar 40% e ter uma vantagem de dez pontos sobre o segundo colocado —, o cenário se complicará no segundo.
Às tensões desses três países se somam as vividas há meses na Colômbia. Neste caso, o clima político é determinado em boa medida pela aplicação dos acordos de paz com as FARC. Há um mês, um grupo de dissidentes da extinta guerrilha, encabeçado por Iván Márquez e JesúsSantrich, decidiu romper o acordo com o Governo de Juan Manuel Santos e retomar as armas. (com informações do El País)
Foto: CNSN