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Argentina deve manter uma relação fria com Brasil e China após eleições presidenciais

O candidato ultraliberal, que derrotou o peronista Sergio Massa no domingo, ameaçou retirar a Argentina do Mercosul

Marcado por debates anteriores calorosos, Javier Milei venceu as eleições presidenciais da Argentina no último domingo (19/11). A relação diplomática entre Brasil e o país vizinho se tornou pauta nas discussões, colocando em evidência uma possível relação fria com o atual governo brasileiro. Apesar de ainda ser o principal parceiro comercial do Brasil na América do Sul, a Argentina tem visto sua participação na economia brasileira diminuir.

Há dez anos, o Brasil exportava US$ 19,6 bilhões para a Argentina, enquanto as importações somavam US$ 16,4 bilhões. No ano passado, as duas variáveis foram de US$ 15,3 bilhões e US$ 13,1 bilhões, respectivamente. A entrada de novos parceiros comerciais, como a China, tem contribuído para esse processo.

Buenos Aires é mais frequentemente atendida pelo Brasil, que se destaca como seu segundo maior comprador, perdendo apenas para Pequim. A Argentina, por outro lado, ocupa a terceira posição na hierarquia de destinos para as exportações brasileiras e não está entre os cinco principais fornecedores.

O comércio entre Brasil e Argentina geralmente favorece o Brasil, indicando que o valor exportado para a Argentina supera as importações. Contudo, em 2019, essa dinâmica foi revertida, resultando em um superávit argentino na relação econômica com o Brasil.

Apesar disso, a situação se inverteu no ano seguinte, e em 2023, a balança comercial deverá novamente favorecer o Brasil. Atualmente, a indústria automobilística é a que mais desempenha papel influente nessa relação entre os dois países.

Além da relação Brasil-Argentina, a China também exerce uma significativa influência no país. Em 2022, o país asiático investiu US$ 1,34 bilhão na Argentina, um montante maior que o Brasil, que caiu oito posições na mesma lista em relação a 2021 e ficou em nono lugar, com US$ 1,3 bilhão injetados pela China.

Tanto o Brasil quanto a China se veem como importantes parceiros comerciais do país sul-americano, mas os projetos de Milei, presidente eleito no domingo, parecem não ir ao encontro dessa relação. O ultradireitista já disse querer acabar com o Mercosul e, no último debate das eleições argentinas, afirmou que não se reunirá com Lula porque ele é “corrupto” e “comunista”.

Há alguns meses, Milei teceu críticas também à China ao comparar o governo chinês a um “assassino” e dizer que a população chinesa “não era livre”.

Nos debates, Sergio Massa, opositor derrotado de Milei nas eleições, disse que a ruptura com o Mercosul, das relações com o Brasil e com a China representam 2 milhões de empregos a menos.

Nesta terça-feira (21), a China afirmou que seria um “erro grave” se a Argentina cortasse relações após a vitória do libertário Javier Milei nas eleições presidenciais do fim de semana.

Apesar da posição de Melei, o Ministério das Relações Exteriores chinês afirmou que quer trabalhar com o país “para prosseguir com a amizade” entre os dois países, enfatizando uma “cooperação mutuamente benéfica”. Lula, por sua vez, declarou que o Brasil sempre estará à disposição para trabalhar com os argentinos.

Em entrevista ao Correio Braziliense, Alcides Costa Vaz, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), avaliou que Milei diminuiu o tom após o resultado da eleição. Para ele, o novo governo deve optar pelo pragmatismo para manter os acordos estratégicos.

Por Gabriel Cézar

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