Álvaro Roux Rosa
Carta 1: Metade do Infinito
Eu o saúdo, seja quem for que estiver lendo essa carta. Se a encontrou, peço que não apenas a leia, mas sim a entenda.
Quero que pense em tudo o que existe de uma vez só. Difícil, não? Seria praticamente impossível. Já vivemos nossos dias sendo bombardeados por desentendimentos e com nossos cérebros em desordem. Aumentar ainda mais as informações que processamos seria uma receita para o desastre. Agora, tente pensar na metade de tudo. Assumindo que o grande todo seja infinito, isso também aparentaria ser uma tarefa sem razão ou insana. Nesse caso, porém, é diferente. Uma pessoa que tenta pensar em tudo o que há de uma vez só mastiga mais do que consegue engolir e entra em exaustão, ou fica maluca, ou fica cansada, ou volta pra mesmice de sempre. Pensar em tudo em segundo plano em uma frequência diferente, por outro lado, já se mostra como um caso mais interessante e capaz. Uma metade do tempo para o necessário e a outra para pensar sobre os grandes mistérios e segredos não descobertos. Se preferir, pode até usar outras métricas. Seja um quarto, um sexto ou até mesmo um centésimo. Uma fração do infinito permanece infinita. O grande poder do pensamento, da capacidade de potencial imaginativo e de aprendizado se torna presente uma vez que o ser humano compreenda que a metade do infinito ainda é infinita.
Quantos infinitos estão na sua vida, hmm?
Carta 2: Morte e a Certeza Paradoxal
Eu o saúdo, seja quem for que estiver lendo essa carta. Se a encontrou, peço que não apenas a leia, mas sim a entenda.
A morte é dita como a maior certeza da vida, como se fosse a única real verdade. É um “fato” apresentado de maneira fria e mórbida. Eu já acho esse pensamento meio solto. Acredito que quem o criou deve ter feito apenas para soar como um “pai de árvores secas”, apenas para pintar o mundo de cinza para que nossas desesperanças pesem ainda mais para cada amigo que perdemos ao longo de nossas vidas. Também não irei pagar de falso otimista e negar a morte; não é assim que funciona comigo. Mas falar que a morte é uma certeza sem os devidos créditos dados para a experiência que é viver me parece desonesto. Apenas temos a convicção de que a mortalidade é certa pelos nossos olhos mortais vivos. A perda é gerada pela ausência de algo que antes existiu. Se esse senso foi criado, então algo de fato existe para que seja perdido. Claro, também existem aqueles que podem tentar argumentar que a vida não passa de uma ilusão química complexa. Infelizmente, essas mesmas pessoas se esquecem de que nossa percepção do que é de fato a “morte” vem dessa mesma química, tornando-a uma incerteza. Em resumo, a existência do fim mortal é dependente do início mortal. Um não existe sem o outro. É igualmente importante amadurecer com ambos em mente para abraçar a vida e respeitar a morte.
Diga-me sem me dizer. Você tem medo de morrer? Ou seria esse o medo de viver? Quem sabe os dois. Isso, de fato, é uma incerteza.