Buscando alguma forma de entender melhor seus sentimentos, alinha os três materiais de leitura que leu recentemente: a folha de caderno, o convite de aniversário e o recorte de jornal. Antes apenas servindo como uma soma de todas as partes, agora o todo é revelado. Juntos, os textos limpam a mente da coruja, que permanece em um estado de confusão, porém alimenta sua inspiração. Ele arranca uma de suas penas e se prepara para fazer algo que não fazia há meses: escrever.
Derramou tudo o que sentia em uma folha de papel em branco com emoção, todavia de forma controlada e racional. O garrancho das letras se encaixava cordialmente entre os termos simples e complexos, que formam a harmonia sinfônica da experiência pessoal e o simbolismo manufaturado. A barreira de pena que separava a tinta e a pena assim foi quebrada. Após horas de trabalho, foi finalizado. O pergaminho, cheio de palavras intensas, voa com o vento. Voa pela janela, voa alto e voa com bravura; como se estivesse vivo. Some da visão da ave enquanto o sol se ergue, triunfante pela manhã. Apesar de nem todos os seus problemas terem sido resolvidos, o caminho se abriu. Orgulhoso, Geoberto se deita no chão, pois um novo dia amanheceu.
O papel é gentilmente levado pelas nuvens. Sua trajetória mística o leva para riachos,ravinas e lagos, viajando por horas enquanto observa, do alto, outros seres vivendo suas vidas. Presenciou desconforto, vitória e diversos elementos inexplicáveis que constituem a existência natural. Quando menos espera, ele se vê abraçado ao chão; segurado pela grama do solo rico. Em sua nova posição, observa a dança interminável do sol e da lua. Um dia, porém, as luzes desse enorme espetáculo foram interrompidas pela silhueta de um animal curioso. Com o espírito de um leitor em uma jornada de redenção, a chama de sua vontade passa adiante.