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Ars Gratia Artis: O príncipe da Vila Moretti

Zala

Vinicius Zepeda

Laza começou a trabalhar naquela empresa preparando e servindo cafezinho para seus funcionários. No começo circunspecto e desconfiado, ele logo foi ganhando a simpatia, respeito e admiração de outros mais “graduados”, mesmo que ali ele fosse apenas um dos poucos pretos e pobres.

Morador da comunidade da Vila Moretti, no bairro de Bangu, Zona Oeste do Rio, Laza segurava a bandeja e servia o café de uma maneira única. Gestos finos. Elegantes.

Ele ia todo dia de trem até o trabalho. Horas no transporte público apertado, para chegar ao trabalho todo amarrotado. Não para Laza. Ele ia com uma camisa de malha qualquer e tirava da mochila a camisa social enrolada em tubinho para não amassar. Depois era passar os panos e colocar a camisa por dentro da calça, com o cinto. Impecável. Assim como um lorde mesmo, o Príncipe da Vila Moretti.

Laza fazia de tudo um pouco, se virava nos trinta para sobreviver como a maioria dos brasileiros. Faculdade à noite, bicos de garçom aos finais de semana, trabalhar em pet shop aos sábados. Cantava e gravava rap. Seu sonho era ser músico, uma espécie de MV (Mensageiro da Verdade). E foi quando esses mesmos “doutores” e “Mestres” e “PHDs” olharam para ele e falaram: Que educação! Que profissional exemplar! Melhor que a maioria dos nossos graduados!

E Laza é isso mesmo, alto, magro, esguio, da pura beleza da raça. Ele chama a atenção, conquista, seduz com sua fala mansa e sempre calma. O Príncipe da Vila Moretti parece da linhagem nobre de seus ancestrais africanos. Talvez descenda dos reis da Etiópia, Quênia, Namíbia, África do Sul ou Congo.  Não sei dizer.

Laza tem muitos sonhos, como todos nós temos. Eu também tenho. Eu acredito ainda que alguns dos meus sonhos eu ainda irei conquistar. Mas tenho certeza de uma coisa: Laza, o Príncipe da Vila Moretti, é gigante. E ele tem esse mundão todo pela frente. E ainda vai conquistar muito dos seus sonhos.

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