Extraído da coletânea ‘Aventuras Uranianas’

Os sábados de manhã são literários na medida em que eu e Thomás os tornamos.  A troca de carícias dele com uma índia que eventualmente vende artigos de sua tribo, em frente às Lojas Americanas do Largo do Machado; suas conversas com as estátuas vivas, pintadas de verde, marrom ou prata; a participação inesperada no show do palhaço Café Pequeno da Silva e Psiu… Lembro do comentário do artista, observando as interatividades do menino, dirigindo-se a mim, em público: “Esse vai dar trabalho”!!!

Como em outros dias e, de acordo com os preceitos que, mais tarde, fui descobrir tratavam da saúde e ginástica cerebral (Neuróbica), seguimos nosso passeio de sábado sem nenhum roteiro pré-estabelecido.

Seguimos para a Urca.

Já no Pão de Açúcar foi aquele maravilhamento.  A subida, a paisagem; a aterrissagem do helicóptero.  Subimos apenas o primeiro morro.  Na beleza do Rio de Janeiro passeávamos, com uma vista deslumbrante e cada detalhe fazia parte daquela visão com perfume de nossas belezas.

Numa localidade um pouco abandonada, parecia em obras, vimos um trator;  ele, desejoso de pilotá-lo, afirmou categoricamente: “Papai, um trator voador!!!”

Fiquei maravilhado com aquela hipótese.  Afinal, estávamos tão alto… no Pão de Açúcar… Um trator naquele lugar só poderia voar… Algo tão pesado e tão ligado à terra sendo tratado como um entretenimento aéreo me pareceu um oxímoro perfeito para aquela situação… porque existem coisas perfeitas para alguns momentos.  E, naquele momento, um trator voador era sinônimo de Liberdade.

E encontramos um espelho.

E eu estava lendo, à época, o intenso livro “EU SOU”.  Então, arrisquei… 

–     Filho, quem é aquele no espelho?

–     Eu sou.  Eu sou aquele.

–     Ei, filho, diga: Eu sou…

–     EU SOU!!!

–     Como você pode ser aquele e ser esse?

–     Eu sou este que está com o papai!!!

Nesse momento, ainda voávamos no trator voador… e o nosso amigo Sol nos observava, bem de perto, por detrás das nuvens.