Jornal DR1

Ars Gratia Artis: O Vento do Oriente

Janaína Pires das Neves

Toda vez que o vento soprava no Oriente as pessoas lembravam das histórias dos antepassados. Segundo elas, no começo dos tempos da civilização, o vento andava muito triste. Ele pensava que não servia para nada e vivia pedindo a Deus uma chance para mostrar seu valor.  Então, um dia Deus falou:

– Você vai ter sua oportunidade de ser grande e muito importante.

O vento não acreditou muito, mas saiu à busca de sua oportunidade. Ele queria ser igual aos rios que matam a sede de quem precisa. Igual ao fogo que aquece os corações dos homens. Pensando nisso ele chegou a uma conclusão:

– Poxa, meu único dom é ventar. Já sei! Eu vou soprar, soprar e soprar!

Então ele começou a soprar para mostrar todo seu valor. Passeou pela Terra, pelo céu e pelo em busca de sua oportunidade. Nada encontrou. Muito, muito brabo mesmo, esbarrou em uma nuvem carregada e foi aquele temporal.

Durante esse mesmo dia, entre a confusão do vento com a nuvem, uma menina esbarrou numa caverna para se proteger da chuva e de toda aquela ventania.

Seguidamente, sem querer, o vento derrubou uma grande árvore que caiu na entrada da caverna bloqueando a saída. Muito assustado ao ouvir a jovem chorar, o vento se arrependeu de toda aquela confusão e ventania. Foi então em sua direção tentando ajudar. Ele pensou:

– É a minha chance!

Soprou, soprou, soprou… Mas estava tão fraco que só conseguia assobiar. Escutando o vento assobiar, a menina pensou que era alguém à sua procura.

– Quem está ai? E o vento, com sua últimas forças, avistou outra entrada na caverna. Enfraquecido, a única coisa que o vento podia fazer era assobiar.  E foi o que fez. E a menina, escutando aquela música melodiosa, encontrou a saída da caverna.

A jovem, muito intrigada,  ao sair da caverna murmurou baixinho:

– Como foi que saí sã e salva desse lugar? Não hava ninguém!

Foi então que o vento pensou, como que com toda sua força não conseguiu sequer mover uma pedra, que dirá uma árvore daquele tamanho. Porém, com um simples assobio guiou os passos da bela jovem ao longo da caverna até uma saída segura.

E a garota apareceu e transformou-se em um senhor de barba branca. Ele olhou para o vento e disse:

– Ser grande reside em ser pequeno e do pequeno ser grande!

Finalmente percebendo que as aparências enganam e cada um tem sua função em meio à grande sinfonia do Universo, o vento nunca mais se queixou a Deus. Hoje em dia, quando se ouve um assobio ao longe, é sinal de que o Vento do Oriente está ajudando alguém, em algum lugar.

Confira também

Nosso canal

RESPIRARTE - 21 JAN 25