Jornal DR1

Ars Gratia Artis: Sarau Cênico-Literário Myrna Responde de Nelson Rodrigues

Desta vez a Casa da Leitura, em Laranjeiras, foi palco para uma divertidíssima leitura das correspondências de Myrna, pseudônimo feminino adotado por Nelson Rodrigues, protagonizando respostas a inúmeras cartas de mulheres em busca dos sagrados conselhos para a felicidade no amor, publicadas no Jornal Diário da Noite, idos de 1949, grande sucesso no Rio de Janeiro. 

O Diretor Delson Antunes e a talentosa trupe da CIA Janela Azul, pelo método apreendido nos workshops de Delson, especialmente o ‘Palavra como Ação’, brindou o público com uma apresentação fluida, harmoniosa, adaptando o enredo para a cena teatral com a criação de uma rádio, onde tais conversas eram mediadas por Sacha Rodrigues: enfático, intenso e elegantemente vestido e revestido da presença de Nelson, urdiu as bordas do tecido cênico-literário de humor, sagacidade, ironia: elo entre as sincronicidades.

N’alguns dos intervalos das interações entre as ávidas leitoras da coluna ‘Myrna Responde’, carismáticos jingles, absolutamente originais, encadearem as passagens das histórias com suavidade, trouxeram agradecimentos aos parceiros Casa da Leitura e ao Jornal DR1, despretensiosamente, permitindo hilárias coreografias das backing vocals, nas pantomimas da angústia, do ridículo, do patético: a ‘sofrência’ de intercalar suspiros, remoendo dúvidas, celebrando fantasias: as interlocutoras da múltipla Myrna são todas ouvidos à sua sabedoria, que tem resposta pra tudo! Afinal, o amor é eterno… Se acabou, é porque não era amor!

Um brinde aos momentos musicais, surpreendendo-nos com Moacir Franco, Besame Mucho e clássicos da gravidade romântica, entrelaçados a hilariantes esquetes; quase ouvimos a diversão de Nelson, afinal não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo, mas se pode rir por entender como a verdade das coisas sempre nos escapa aos sentidos, ao intelecto; vivem-se vidas e a simplicidade se desnuda, como caminho… Delson e a CIA Janela Azul preencheram com tantos sentidos, sonoridades, contares e cantares, colares e cordões, Myrnas, jingles, trejeitos e alegrias escondidas – que só o que se vê são recursos, muitos recursos – onde falta a coisa, é necessário representá-la… Delson diz, quanto ao Sarau: ‘não é um espetáculo’, pela simplicidade da estrutura à sua disposição. Podemos e redarguimos o mestre com um sonoro ‘Sim, tudo o que fazem tornam espetacular, pelo talento, pela otimização do possível às mãos hábeis, pelas bocas que conspurcam limites, nos silêncios; pelas vontades harmonizadas – sopro de Dionísio – propósito de celebrar a vida na palavra, a palavra como ação.

Confira também

Nosso canal

Error 403 The request cannot be completed because you have exceeded your quota. : quotaExceeded