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Bairros sob holofotes indesejados

Mat 01 Foto_ Márcia Foletto_10-03-2023

Moradores relatam medo constante enquanto operações policiais tentam frear avanço do crime na Zona Sudoeste do Rio

Para tristeza de seus moradores, Jacarepaguá e Itanhangá voltaram ao noticiário policial com frequência nos últimos meses. A região, conhecida por sua tradição familiar, áreas verdes e forte presença de comunidades, tem enfrentado uma escalada de confrontos que preocupa quem vive e circula diariamente por ali.

O ápice da tensão ocorreu em 28 de outubro, quando a polícia desencadeou a megaoperação Contenção nos complexos da Penha e do Alemão e anunciou que outras ações chegariam à Zona Sudoeste para impedir o avanço do Comando Vermelho. A promessa se cumpriu no último dia 10, quando forças de segurança realizaram operações simultâneas em diversos pontos do Itanhangá e em mais sete comunidades de Jacarepaguá: Beco do 48, Coroado, Muzema, Morro do Banco, Tijuquinha, Fontela e Cesar Maia.

Entre traficantes e milicianos, o medo é o mesmo

Para quem vive nos bairros conflagrados, a disputa territorial entre criminosos — seja do tráfico, seja da milícia — tem um impacto semelhante: o medo. Moradores relatam dias de incerteza, comércio que fecha mais cedo, atrasos no transporte público e crianças impedidas de frequentar escolas em dias de operação.

“Já nem importa quem domina a comunidade. O que a gente quer é segurança, é poder sair de casa sem olhar para os lados o tempo todo”, dizem moradores, em um sentimento compartilhado por grande parte da população local. A convivência forçada com grupos armados transforma rotinas simples, como ir ao mercado ou esperar o ônibus, em decisões calculadas.

Operações trazem alívio momentâneo, mas ainda insuficiente

As ações policiais realizadas recentemente geraram, para alguns, uma sensação passageira de alívio. Entretanto, muitos destacam que intervenções pontuais não bastam para mudar a realidade. A população cobra continuidade, presença permanente do Estado e políticas públicas capazes de enfraquecer o poder das facções.

A falta de serviços básicos, o abandono de áreas vulneráveis e a ausência de projetos sociais estruturados acabam abrindo espaço para que grupos criminosos ocupem funções que deveriam ser do poder público. E é justamente essa combinação que faz com que o ciclo de violência se perpetue.

Moradores pedem o óbvio: viver em paz

O desejo é unânime: voltar a viver sob a proteção do Estado, com policiamento eficiente, serviços funcionando e oportunidades para os jovens. A comunidade quer ver o nome de Jacarepaguá e Itanhangá voltar às manchetes por motivos melhores — cultura, esporte, natureza, qualidade de vida — e não pela violência.

Enquanto isso não acontece, a esperança se mantém. Moradores seguem torcendo para que as operações sejam apenas o começo de uma presença contínua do poder público, capaz de devolver à região aquilo que ela merece: paz, dignidade e segurança.

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