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Black Lives: Donga: o pioneiro do samba e sua importância na cultura brasileira

Reprodução Internet

João Machado Guedes, mais conhecido como Donga, é uma figura central na história da música brasileira, especialmente no universo do samba. Nascido no Rio de Janeiro em 1890, Donga é frequentemente lembrado como o autor do primeiro samba registrado, “Pelo Telefone”, em 1916. No entanto, sua importância vai além de um marco cronológico; ele é um símbolo da resistência, da criatividade e da cultura negra que moldou o Brasil.

Donga nasceu em uma família de músicos. Sua mãe, Tia Amélia, conhecida como Tia Ciata, foi uma das figuras mais influentes na criação e popularização do samba, especialmente nos famosos terreiros da Pequena África, na região da Praça Onze. A casa de Tia Ciata era um ponto de encontro para músicos, dançarinos e poetas, e foi lá que o jovem Donga teve suas primeiras experiências musicais, mergulhando nas tradições do choro, maxixe, lundu e nas rodas de samba que ecoavam pelo bairro.

A música “Pelo Telefone”, composta em parceria com Mauro de Almeida, é frequentemente apontada como o primeiro samba gravado e registrado na história da música brasileira. Embora haja debates sobre a autoria e a verdadeira natureza do que é considerado “samba”, o registro de Donga foi um divisor de águas. Ele trouxe o samba dos quintais e festas informais para o centro da vida cultural do país, abrindo caminho para o que se tornaria o gênero musical mais emblemático do Brasil.

O legado de Donga não se limita à composição. Ele foi um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBA), uma entidade pioneira na luta pelos direitos autorais dos músicos no Brasil. Em um período em que a música era amplamente explorada sem a devida remuneração ou reconhecimento, Donga e seus companheiros se uniram para proteger os direitos dos artistas, assegurando que sua criação fosse valorizada e protegida.

Ele foi um dos primeiros músicos negros a alcançar destaque em um cenário musical dominado por brancos, em uma época em que o racismo era ainda mais explícito e institucionalizado do que hoje. Sua trajetória é um exemplo de resistência cultural e afirmação da identidade negra. Ao registrar “Pelo Telefone”, ele não apenas inaugurou uma nova era para a música brasileira, mas também reafirmou a presença e a importância da cultura afro-brasileira no coração do país.

A influência de Donga pode ser sentida em toda a história do samba. Grandes nomes como Cartola, Nelson Cavaquinho, Clementina de Jesus, e outros, seguiram seus passos, contribuindo para a evolução do gênero e mantendo viva a chama acesa por ele e sua geração.

Ao revisitar a obra e a trajetória de Donga, é fundamental reconhecer seu papel como um dos pilares da cultura brasileira. Sua contribuição vai além das notas musicais; ela está intrinsecamente ligada à construção de uma identidade nacional que se orgulha de suas raízes africanas. Donga é, sem dúvida, uma personalidade que deve ser celebrada e lembrada como um dos maiores expoentes da música e da cultura negra no Brasil.