Por Claudia Mastrange
O sonho de trabalhar com arte vem desde menino na vida de Carlos Paschoal Titanero. O caminho não se mostrou tão fácil. Mas, quem disse que ele desistiria? Aos 21 anos começou a trabalhar como ator, tornou-se também diretor e viu que a saída era produzir seus próprios espetáculos. Veio daí o start para empreender cultura.
Hoje, aos 35, Cal Titanero é ator, produtor e diretor cultural da Ancec (Agência Nacional de Cultura e Empreendedorismo e Comunicação), instituição que fomenta e valoriza a cultura, as mentes empreendedoras e a comunicação – elo de informação e propagação de ideias. Para ele, isso tudo é que faz a diferença para um povo que precisa muito mais que pão e circo. Confira a entrevista exclusiva ao Diário do Rio!
Fale um pouco de como surgiu seu amor pela arte e de sua trajetória artística. Sua família apoiou?
Eu sempre tive vontade de trabalhar como ator, mas só tive a oportunidade de iniciar no Teatro Macunaíma aos 21 anos. Tive apoio da família, mas faltavam condições financeiras para o estudo.
Quando começou a trabalhar também como produtor cultural?
Percebi que, devido à dificuldade em nosso país, era importante se autoproduzir e comecei, ao lado do Josias Souza, a produzir espetáculos teatrais com os quais continuaria exercendo a arte pós-escola.
Como surgiu a ideia de criar a Ancec?
Em busca de patrocínios para as peças teatrais, encontramos alguns empresários parceiros que tiveram a ideia de criar, em conjunto, uma instituição que não só fomentasse a cultura, mas valorizasse a cultura e estivesse aliada à comunicação, para poder propagar os outros dois pontos da tríade da Ancec.
Qual importância de uma instituição que valoriza a cultura e o empreendedorismo no atual momento do país? A resistência está em continuar fomentando e divulgando?
Exatamente. O papel da Ancec é valorizar, fomentar e reconhecer as três áreas. Quanto mais gente unida nesse propósito, mais a cultura poderá resistir e junto do empreendedorismo, e não de forma separada como muito se propaga, infelizmente.
Foi mais difícil do que pensava ou encontrou mais apoio do que imaginou?
Sempre é difícil, e continua difícil, devido ao mito de cultura e empreendedorismo não poderem andar juntos, numa caminhada só. E essa é a missão da Ancec: valorizar tudo isso nesses tempos difíceis para que todos cresçam, juntos.
Você atuou no espetáculo ‘O Beijo no Asfalto’, faz ‘Bonitinha, mas Ordinária’. Fale de sua paixão por Nelson Rodrigues…
Amo Nelson, tenho uma parceria com o Sacha, neto dele, que já virou uma grande amizade que inclusive gerou a homenagem do Troféu Nelson Rodrigues e eu, como diretor cultural da Ancec, fui um dos idealizadores. O Edgar de ‘Bonitinha, mas Ordinária’ é o personagem que mais me marcou até o momento, a “luta” dele entre o lado certo e o lado errado (dentro do ponto de vista da personagem, sem julgar ninguém) é incrível, fora que é ótimo poder mais uma vez atuar com minha esposa, Stella Portieri, que já virou especialista nas ninfetas de Nelson Rodrigues.
Acha que o texto ‘rodigueano’ segue atual?
A frase da peça ‘O Mineiro só é Solidário no Câncer’ é super atual. Infelizmente a sociedade ainda tem muito a evoluir. Perceba que um sujeito fala que o outro é corrupto, mas, se ele tem a oportunidade de se corromper em benefício próprio, não pensa duas vezes. E o Nelson toca nessa e em outras feridas ainda abertas em nossa sociedade e que tem de ser mostradas.
Que personagem/texto sonha interpretar?
Penso em produzir uma peça que fale sobre fé, não a fé na religião, mas a fé no ser humano, algo que Jesus, Chico Xavier e tanto outros pregavam, independente e acima da questão da religião.
Acredita que o público absorve um texto teatral e consome novela da mesma forma, com o mesmo interesse? A era das redes sociais e velocidade de informações ajuda ou atrapalha?
Não, a novela tem um apelo popular muito maior. A dificuldade de acesso do público ao teatro é cultural, temos muitas peças de graça, mas não há interesse. A pessoa prefere ficar vendo TV ou ir ao cinema ou agora assinar um aplicativo e assistir pelo celular. E não há como lutar contra essa nova realidade. Mas assim como há leitores para um livro, há público para uma peça.
No atual momento polarizado do país, acredita que o povo precisa de pão e circo? E o que mais?
O povo precisa de educação e a educação está atrelada à cultura e à arte. Todos levam ao mesmo caminho. Quanto mais conhecimento real – não de fake news –, e quanto mais discussão de forma pacifica, melhor a sociedade fica.
Qual a maior dor e delícia de trabalhar com cultura e empreendedorismo?
A dor é ver que muitos empresários e artistas não conseguem seguir com o sonho. E a delicia é ver o trabalho reconhecido no rosto de cada associado da Ancec. E essa missão tem de continuar, realizando um trabalho sério para reconhecer e valorizar a cultura, a comunicação e o empreendedorismo. Convido que todos conheçam mais sobre a Ancec, que os empresários conheçam mais sobre o trabalho do Selo Referência Nacional e possam se inscrever para participar e juntos, todos, fomentarem crescimento para si e para os outros. Deixo aqui o site da www.ancec.net.br para que todos conheçam mais sobre o nosso projeto.
Fotos: Divulgação