O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, anunciou estado de emergência nacional na segunda-feira do dia 14 de fevereiro para acabar com os protestos dos caminhoneiros, protestos estes em favor da diminuição das restrições sanitárias impostas pelo governo por conta da pandemia. O chamado Emergency Act constitui um dispositivo legal que, entre outras coisas, suspende o direito civis dos cidadãos. Essa é uma medida extrema que prevê impedir reuniões públicas e o bloqueio de bens. Com isso o governo federal, com o intuito de manter a ordem, concede aos bancos o direito de confiscar fundos sob qualquer suspeita sobre seus clientes.
É dever do estado manter a ordem, a paz e a segurança do país e de seus cidadãos, bem como sua liberdade civil, política social e econômica. É também dever do estado proteger seus bens e a propriedade privada e está em seu poder usar a autoridade e meios coercitivos para tanto. Talvez seja desnecessário citar a cartilha do liberalismo dos estados modernos, o qual serviu de base para o surgimento do capitalismo como hoje o conhecemos em vários estados democráticos. Há, no entanto, algo no conflito político que ora toma lugar no Canadá, que nos faz suspeitar do possível fracasso, ou pelo menos, da vulnerabilidade de nossas instituições democráticas. A suspensão de direitos civis não é algo trivial, especialmente, se considerarmos o fato de que o Canadá figurava, até então, como um país modelo em estabilidades político-econômica e social, de respeito absoluto por seus cidadãos. Se uma medida tão autoritária, intransigente a qualquer tipo de diálogo ou acordo prévio com a dissidência, pode ocorrer no Canadá, então isso pode ocorrer em qualquer outro país.
Não se pode afirmar ser este o caso do Canadá, mas quando o poder político se compromete com instituições financeiras a ponto de outorgar-lhes poder de decisão sobre quem pode ter acesso ao “seu próprio dinheiro”, isso pode significar que o estado se tornou, ele mesmo, um negócio. Há camadas mais profundas para compreensão do gradual esvaziamento do domínio do cidadão sobre suas próprias bases políticas, o que está fora do escopo deste artigo. Ao menos, fica claro a razão de tanta gente considerar o bitcoin como uma alternativa de escapar de um possível aprisionamento. Como já dizia o economista Milton Friedman sem liberdade econômica, não é possível alcançar a liberdade civil, política e social, sendo a liberdade econômica, no atual cenário geopolítico do poder, uma condição necessária para a liberdade global.