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Luto: Morre Zé Celso, aos 86 anos.

 

Maior nome da dramaturgia nacional e criador da linguagem tropicalista no teatro, Zé Celso estava internado na UTI desde de terça-feira (4), devido a um acidente doméstico.

Faleceu na quinta-feira (6) o dramaturgo José Celso Martinez Corrêa – Zé Celso – aos 86 anos. Zé Celso estava internado desde terça-feira (4) na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas em São Paulo após sofrer um acidente doméstico.

Na madrugada da última terça-feira, um incêndio provocado por um aquecedor elétrico atingiu queimou o apartamento do dramaturgo em Paraíso, bairro da zona sul paulistana. Zé Celso teve cerca de 53% de seu corpo queimado e acabou não resistindo aos ferimentos na manhã dessa quinta-feira.

Desde cedo, Zé Celso demonstrou paixão pelo teatro, fundando o grupo Teatro Oficina em 1958, que se tornou um importante espaço de experimentação teatral e resistência política. Suas montagens, marcadas pela ousadia, provocação e pela fusão entre a tradição do teatro e as novas linguagens artísticas, são reconhecidas nacional e internacionalmente.

Ao longo de sua carreira, Zé Celso dirigiu e adaptou diversas peças teatrais, além de ter escrito textos originais. Seu trabalho é caracterizado pela mistura de elementos culturais brasileiros, pela exploração da sexualidade e do corpo, e pela crítica social e política. Suas encenações são famosas por sua energia visceral, uso intenso da música, dança e improvisação.

Uma de suas montagens mais emblemáticas é “O Rei da Vela”, de Oswald de Andrade, que ganhou grande repercussão na década de 1960 e se tornou um marco do teatro brasileiro. Zé Celso também foi responsável por montagens de clássicos como “Hamlet” e “Romeu e Julieta”, sempre trazendo uma abordagem inovadora e transgressora.

Ao longo de sua trajetória, Zé Celso recebeu inúmeros prêmios e homenagens, sendo reconhecido como um dos grandes mestres do teatro brasileiro. Sua contribuição para a cena teatral vai além das suas produções, estendendo-se também à defesa da liberdade de expressão e à luta pela preservação do patrimônio cultural brasileiro.

Por sua resistência e ousadia em desafiar a Ditadura Militar, Zé Celso foi preso em 1974, onde foi colocado em uma solitária e torturado pelos militares. O artista então se exilou em Portugal, onde montou “Galileu Galilei”, espetáculo inspirado na teoria do dramaturgo alemão Bertold Brecht. Em 2010, Zé Celso foi anistiado pelo Estado brasileiro, recebendo também uma indenização de R$ 570 mil.

Um mês antes de sua morte, o dramaturgo se casou com seu companheiro Marcelo Drummond, ator do Oficina, no qual conviveu por 37 anos. O casamento foi na sede do teatro, que também foi um espetáculo dirigido pelo próprio Zé Celso, deu derradeiro ato na arte e no amor, celebrando como sempre fez: com amor,  humor, ousadia, o revolucionário do teatro brasileiro.

A família e ao amigos amigos enlutados, nossas sinceras condolências.

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