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Com dor e divergências, tragédia no Ninho do Urubu completou um ano

Por Sandro Barros

No dia 8 de fevereiro de 2019, o Brasil acordou comovido com a tragédia no Ninho de Urubu, centro de treinamento do Flamengo localizado em Vargem Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Um incêndio em um alojamento, iniciado às 5h, tirou a vida de dez jovens atletas. Horas após o incêndio, o governador Wilson Witzel decretou luto oficial de três dias no estado em virtude da tragédia.

O capítulo mais triste da história do Flamengo completou um ano. Naquele dia, jogadores da base rubro-negra, que tinham entre 14 e 16 anos, estavam dormindo em um dos contêineres utilizados para o alojamento dos garotos, quando um curto-circuito em um ar-condicionado provocou um incêndio no local. Dos 23 que estavam lá, dez tiveram suas vidas interrompidas pelas chamas. São eles: Athila Paixão, Arthur Vinícius, Bernardo Pisseta, Christian Esmério, Gedson Santos, Jorge Eduardo Santos, Pablo Henrique, Rykelmo Viana, Samuel Thomas e Vitor Isaías. O incêndio ainda deixou feridos Cauan Emanuel Gomes Nunes, Francisco Diogo Bento Alves e Jhonatan Cruz Ventura, mas todos se recuperaram.

Desde o ocorrido, as famílias das vítimas tentam entrar em acordo com o Flamengo em meio à dor pela perda de seus entes queridos, mas as conversas estão longe de um desfecho. Os culpados não foram apontados, os dirigentes dialogam pouco sobre o assunto e apenas três famílias se acertaram com o time rubro-negro — os parentes de Athila Paixão, Gedson Santos e Vitor Isaías, além de José Lopes Viana, pai de Rykelmo.

“Eu entreguei meu filho são e recebi ele em um caixão lacrado. Nem pude ver o rosto dele. Eu não estaria lutando por nada se o Flamengo colocasse meu filho no avião, dispensasse e o mandasse para casa”, afirmou Rosana Souza, mãe de Rykelmo. O sofrimento dessa mãe toca os corações além de deixar uma incômoda pergunta: e se um dos garotos fosse meu filho?

Logo após o incêndio, o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, em vídeo divulgado pelo clube, se pronunciou sobre o assunto. “Essa foi a maior tragédia da história do Flamengo. Vamos conviver com isso ainda por muito tempo em nossa memória, de todos aqueles que trabalham e os torcedores também. Por mais que vá sendo curado com o tempo, vão ficar as cicatrizes”, disse.

Um ano depois, torcida do Flamengo faz homenagem às vítimas no Maracanã (Foto: Alexandre Vidal/CRF)

Divergências que persistem

E Landim tinha toda razão. As cicatrizes são profundas e são públicas. Principalmente quando se trata das acusações dos familiares das vítimas sobre a frieza do clube. “Desde a tragédia, conversei apenas uma vez com o Flamengo, e nem foi com um dirigente, mas sim com o advogado. O clube nos abandonou em uma atitude de total desprezo. Não sabemos o que vai acontecer. Não tenho raiva da torcida nem do time, mas acho que essa diretoria omissa vai deixar uma mancha muito grande”, disse Wedson Candido de Matos, pai de Pablo Henrique, um dos mortos no incêndio.

Depois de um ano, as famílias ainda tentam juntar os cacos e seguir em frente, mas a dor deixada pela catástrofe jamais será esquecida. “Quando lembro do jeito dele, da alegria de viver que ele tinha, dói meu coração. A gente tenta seguir, mas sabemos que a felicidade nunca mais será completa”, declarou Marília Barros, mãe de Arthur Vinícius, que recebe apenas uma pensão mensal do clube. “Toda vez que esse dinheiro entra, meu coração dói. Eu não queria dinheiro nenhum se pudesse ter meu filho aqui”, concluiu Marília.

O Ministério Público afirma que está agindo e os dirigentes do Flamengo podem até responder criminalmente pelo incêndio. Sobre a questão das indenizações, Landim criticou recentemente a postura dos advogados das famílias que ainda não fizeram acordo com o clube. “Existe pela área jurídica do clube sinalização de que os advogados das vítimas colocam barreiras. Os advogados claramente criam barreiras. Endurecem essa discussão porque dizem que o clube não os procura. É estratégia deles. Estão preparando para entrar na Justiça. Óbvio que eles querem passar a visão de que o clube é duro, insensível”, comentou.

Mas é difícil acreditar na sensibilidade dos dirigentes rubro-negros quando as famílias de Christian Esmério e Jorge Eduardo Santos, que queriam prestar uma homenagem no Ninho do Urubu no exato dia em que a tragédia completou um ano, têm seus acessos barrados. Depois de uma espera de mais de uma hora, eles foram embora. Apenas os familiares de Pablo Henrique entraram no local. A situação criou revolta, principalmente nas redes sociais.

Apesar dos problemas judiciais e da troca de acusações, os parentes seguem unidos na tentativa de reconstruir a vida e superar a tragédia. O fogo pode ter interrompido a vida dos jovens garotos que corriam atrás de seus sonhos, mas eles sempre viverão dentro dos corações de suas famílias.

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