O mijo quente de um garotinho molhando o barro seco e rachado, requentado pelo sol equatorial, pelo sol malvado e cáustico daquela época do ano. Que pena que não passava assim tão rápido quanto desejavam. À noitinha ficava melhor; os galos dormiam (era engraçado ver os bichos dormindo) e o cheirinho de café tomava conta da casa de tijolos, sem pintura, sem cerca, com uma janelinha que dava pr’um morro aonde um senhor moreno levava suas vacas magras para pastar. Fazia estalidos ao chocar-se com o solo, penetrando pelas frestas onde o garotinho passava para tentar tapar os ”vales”; tinha lido isto certa vez, num livro de geografia…
– Paiê, quanto vale os vales?! – dizia brincando com o pai, seu companheiro naquele lugar perdido, naquele lugar tudo e, ai de quem falar mal daquilo que ele mesmo ajudara a construir com seu pai: ele emburrava logo, fechava o rosto com uma terra seca nas bochechas, as mãos grossas e ásperas levadas para frente, esticando-se, e um bico que só.
A aguinha santa que saía do seu corpo ia escorrendo pelos fundos da casa, ele olhando, com a cabeça perdendo pr’um lado e vendo o sol fazer brilhar o xixi. Levantou a cabeça, não conseguindo fixar-se de uma vez… Correu para o pai, que nada estava fazendo, puxou-lhe pela camisa xadrez e perguntou-lhe sobre o sol; por que haveria o sol de levantar e abaixar, todos os dias: levantar, abaixar, levantar, abaixar; como é que podia ser aquilo? Por que aquela teimosia em repetir tudo, pra sempre?
– Por que isso, pai?
– É a história da teimosia do sol, filho. Ele é assim pra ajudar a todos nós. A gente deve aprender isso com ele.
– Mas é bom ser assim?
– A gente passa por maus momentos, abaixa. Depois vêm as coisas boas e a gente sobe. Você nasceu um dia, filho, como o sol, e, um dia, vai morrer como todos nós. O sol também é assim, nasce, morre, nasce, morre.
O mijo secou na aridez do chão; foi pro céu.
A teimosia que estava sendo ensinada continuou viva no peito do garoto, a de continuar, de viver, de ser feliz. E ele era! Precisavam ver quando ele leu no livro de Ciências que um dia o sol ia morrer de verdade! Mas ele não queria ver isso não e ficou contente por saber que seria dali a muito tempo. Que bom. Assim não precisaria ter pena dele.