Por Claudia Mastrange
O coronavírus é o tema mais comentado mundialmente do último ano e diz respeito á saúde. Mas e o vírus da corrupção? Para esse vírus, que assola nosso país, a única vacina é a prisão, uma ação punitiva exemplar da Justiça. Afinal, durante muitos anos, a certeza da impunidade foi o combustível que impulsionou os atos ilícitos dos corruptos. E o Rio de Janeiro, há tempos sofre com essa corrupção endêmica, que adoece a todos com suas conseqüências trágicas. Afinal, se o dinheiro que deveria ir para Saúde, Educação, Transporte e serviços públicos não cumpre essa função, a população padece.
Depois da prisão do ex-prefeito Marcelo Crivella, acusado de chefiar uma organização criminosa, e do afastamento do governador Wilson Witzel, engrossando a triste estatística de que , nos últimos quatro anos, nada menos que seis governadores e ex-governadores do Rio foram presos ou afastados do mandato, mais um escândalo veio à tona. Uma infinidade de materiais, incluindo respiradores obsoletos e superfaturados, macas tão frágeis que quebram com o paciente, milhares de frascos de soros que vão perder a validade antes de serem usados, testes de covid reprovados, foram comprados pelo governo Wtzel por meio de cerca de 70 contratos firmados em caráter emergencial – sem licitação – e assinados pela Secretaria e Saúde. E tudo isso está estocado em galpões, cujo aluguel ainda custa R$1 milhão por mês aos cofres públicos.
Tudo isso é a prova material da ação indiscriminada da máfia da Saúde. O equipe de jornalismo de Fantástico teve acesso aos contratos e aos equipamentos, produtos de uma engrenagem de desvio de dinheiro público, segundo uma investigação do Ministério Público estadual do Rio de Janeiro.
O gigantismo do desperdiço derivado da corrupção é simplesmente revoltante. Na Coordenação Geral de Armazenagem da Saúde, em Niterói, na Região Metropolitana, ficam guardados todos os insumos comprados pelo governo antes de serem levados para hospitais e postos de saúde. São mais de 300 toneladas de equipamentos que estão no local, vencidos e indisponíveis para a população. Tudo será incinerado. E mais: como a medicação não pode ser tratada como lixo comum, a incineração vai custar aos cofres públicos mais de R$ 3 milhões.
E lembra daquelas máscaras de papel que seriam distribuídas á população bem lá no início da pandemia? Pois elas estão lá, na mesma coordenação de armazenagem: 40 mil máscaras . O Governo do Estado comprou o material, que é feito de papel e não serve para proteger contra a Covid-19.
Desde 2007, diferentes esquemas de corrupção na Saúde do Rio desviaram mais de R$ 1,7 bilhão dos cofres do Estado. De acordo com estimativas, o valor superou os gastos com a pandemia.
Um forte início de fraudes foi a compra de 50 mil testes para Covid-19, efetuada em abril de 2020 pelo governo Witzel comprou 50 mil. O valor foi de R$ 9 milhões, cerca de R$ 180 por unidade. Atualmente, no entanto, o produto é encontrado em qualquer farmácia por metade deste valor.
O uso deste produto no Rio é proibido pela Vigiância Sanitáia, pois a sua eficácia não foi comprovada pela vigilância sanitária do estado. O contrato da compra dos testes foi assinado em 30 de março de 2020, 19 dias depois do início da pandemia, por Gabriel Neves, então subsecretário-executivo de Saúde, sem nenhum parecer técnico. O chefe dele era Edmar Santos, secretário de Saúde à época. Ambos foram presos, mas o valor de R$ 9 milhões foi pago à empresa Totalmed, e agora o secretário Carlos Alberto Chaves quer receber o valor de volta.
Perguntado se houve corrupção na compra dos produtos, ele foi taxativo: “Não tenho a mínima dúvida [se houve corrupção]. Sem dúvidas. Era uma situação extremamente fácil de se ver. Era primária. Pronto, uma situação primária. Todo processo que é feito de uma maneira confusa, ele facilita a corrupção”, avaliou Chaves.
Durante a pandemia, o maior gasto do estado foi com a construção dos hospitais de campanha. Foi firmado um contrato de R$ 835,7 milhões com a Organização Social Iabas previa a abertura de sete unidades no estado com 1,4 mil leitos que atenderiam apenas pacientes com Covid-19. Apenas dois foram construídos: no Maracanã e em São Gonçalo, e mais de R$200 mihões foram pagos.
Witzel foi afastado do cargo pelo Superior Tribunal de Justiça e aguarda hoje seu processo de impeachment ser concluído em um Tribunal Especial Misto. Ele afirma que determinou que todos os contratos firmados durante a pandemia sejam revistos, mesma posição declarada pelo atual governo do estado .
Ou seja: enquanto as investigações prosseguem , os milhões que já foram usurpados dos cofres públicos fazem muita falta à população, que poderia ter os valores nababescos investidos nos serviços essenciais para uma vida digna Corrupção, aliada a má gestão só pode mesmo ser punida com cadeia. Chega de roubo, irresponsabilidade, incompetência e descaso com a coisa pública, enquanto as pessoas que morrem esperando uma vaga na fila do Sisreg/ SUS – bem antes da pandemia – e se aglomeram nos transportes sem direito a distanciamento , conforto ou preço justo. Cadeia neles.
Rio: triste estatística
Você sabia que todos os governadores eleitos do Rio de Janeiro que ainda estão vivos já foram presos ou afastados? Confira a lista:
Luiz Fernando Pezão (governador entre 2014 a 2018): preso em novembro de 2018, foi condenado por abuso de poder político e econômico por conceder benefícios financeiros a empresas como contrapartida a doações para a campanha eleitoral de 2014. Solto em dezembro de 2019
Sérgio Cabral (governador entre 2007 a 2014): preso em junho de 2017, foi condenado em 11 ações penais da Lava Jato e tem pena total que soma mais de 330 anos. Está preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.
Anthony Garotinho (governador entre 1999 e 2002): acusado por cimes de corrupção concussão, participação em organização criminosa e falsidade na prestação das contas eleitorais foi preso 5 vezes desde que saiu do cargo. Responde aos processos em liberdade.
Rosinha Garotinho (governadora entre 2003 e 2006): ficou presa por uma semana,em novembro de 2017 junto com o marido por crimes eleitorais. Condenada em janeiro de 2020, recorreu e responde ao processo em liberdade.
Moreira Franco (governador entre 1987 a 1991): preso em março de 2019 pela Lava Jato, sob acusação de negociar o pagamento de propina, no valor de R$ 1 milhão, à Engevix em obras relativas à usina nuclear Angra 3. Ficou 4 noites na cadeia e responde ao processo em liberdade.
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