Diariamente somos produtores de textos em que nossa língua materna reina. Mesmo que muitos insistam que não haja necessidade de se ter habilidade com a variedade norma-padrão do português, no momento em que estão escrevendo uma rápida mensagem ao interlocutor, surge aquela dúvida de empregar ou não o acento grave. Isso quando não nomeiam esse acento de crase! Quanto a esta, insisto em explicitar que é um fenômeno fonético usado na leitura de poemas em que haja o encontro de duas vogais idênticas, que são fundidas na fala. Vejam este caso, colhido de um poema de Fernando Pessoa: “Se a minha alma é uma alma de poeta, o outro que sou”. Nesse trecho, é perceptível o encontro de “minhA Alma” e de “umA Alma”, dois casos em que a crase é feita na leitura.
Outro exemplo assinado por Álvaro de Campos, um dos muitos heterônimos de Fernando Pessoa, é encontrado no verso “Só a Natureza é divina, e ela não é divina”. Neste vemos a crase de “E Ela”. Claro ficou que, diante da fusão de duas vogais idênticas, na escrita, quando se encontram preposição A + artigo definido A, somos levados a empregar o acento grave, um sinal que muitos ainda usam indiscriminadamente por desconhecerem ou por não saberem as regras de emprego desse sinal diacrítico. Como contribuição minha, deixo aqui o significado do adjetivo “diacrítico”, que vem do grego diakritikós, que significa “capaz de distinguir”. “Distinguir o quê?”, perguntar-me-ão. (Adoro usar mesóclise, mas isso ficará para outra crônica). A resposta é esta: Um simples e solitário artigo A de uma fusão de A (preposição) + A (artigo definido), ocorrida, por exemplo, em uma simples troca de mensagens em que se digite: “Você vai À praia, amiga?”, que é diferente de escrever “Avistei A praia da janela do carro, amiga!”.
O acento grave também será exigido na construção “Iria Àquela festa, se você fosse comigo!”, como também em “Chegarei Àquele local antes das 18h30”. Por mais que soe estranho o último caso, a explicação é a mesma: usaremos o acento grave, quando houver fusão de A (preposição) com os pronomes demonstrativos (aquele, aquela e flexões).
Percebam a diferença nestas outras construções: “Amei Aquela festa.” e “Observei Aquele local da janela de meu carro.”, nos quais, em ambos, pela regência verbal de “Amei” e de “Observei” (verbos que não exigem preposição), só temos a presença dos pronomes “aquela” e “aquele”. Sinceramente eu sou apaixonada por todas as múltiplas possibilidades que nossa Última Flor do Lácio nos proporciona! Espero tê-los ajudado! Por isso dou À língua portuguesa meu coração!





