Este texto é extremamente especial. Sim, meus caros leitores, afirmo que fazê-lo é uma forma de comprovar que Literatura e vida dialogam e que podem nos permitir conhecer culturas que fazem parte da formação de nossa identidade nacional. Falo com orgulho da mais nova obra-prima da literatura infanto-juvenil de Godofredo de Oliveira Neto, ocupante da cadeira 35 da ABL e Professor na cadeira de Literatura Brasileira da UFRJ. Godofredo é também romancista e contista (premiado com uma estatueta no Jabuti, 2006). Para mim, sempre será meu professor. Nossas vidas se cruzam não só pelas vias acadêmicas, já que comemoramos nosso nascimento em 22 de maio! Não é incrível?
Hoje, entretanto, o motivo de minha euforia é uma narrativa primorosa na qual identifiquei passagens de minha vida. Falarei de um livro publicado na Bulgária, na Índia (em inglês) e que, no Brasil, recebeu o selo de “Altamente recomendável”, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil. Apresento a vocês a obra Ana e a margem do rio, história que precisa chegar a todas as escolas; afinal, enquanto professora, sei o quão importante é colocarmos em prática as Leis 10.639/03 e 11.645/08, sancionadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as quais tornaram obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. Logo esse livro torna-se leitura compulsória, visto que enaltece os povos indígenas e sua cultura. Segundo o autor, boa parte da mitologia indígena está no livro. Para isso, ele contou com a colaboração dos amigos Gerd Bornhein e Alberto da Costa e Silva. Exaltando a importância do Museu Nacional, parte da narrativa acontece lá, onde há um grande Departamento de Línguas Indígenas.
E quem é Ana, a protagonista? Uma indígena, de cerca de 17 anos, formada em colégio de freiras desde pequenininha em plena floresta amazônica. Por ser excelente aluna, suas redações foram ficando conhecidas na Funai, no Museu Nacional e na USP. Essa jovem é convidada por uma professora americana que estava de passagem na região a escrever as lendas indígenas que Ana tinha ouvido da sua mãe. Por conta desse convite, a jovem tem que passar uma língua ágrafa com uma visão do universo diferente do que ela aprendeu na escola para uma língua europeia com uma visão de mundo diferente. Forma-se um conflito cognitivo e filosófico; mas Ana aceita o desafio, recolhe dezenas de mitos dos nossos indígenas em português e passa todas as narrativas para um caderno! É, pois, convidada a continuar os estudos nos Estados Unidos, com generosa bolsa de estudos; mas recusou porque responde que quer ficar no Brasil para defender a Amazônia e os indígenas do país. Seria uma Malala Yousafzai brasileira? Nada mais direi. Afinal, quero aguçar a leitura dessa narrativa e sugerir que, neste Natal, dentre os itens de compras, esteja a aquisição desse belíssimo livro.