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Deleite Linguístico: Dalton Trevisan: o recluso multipremiado 

Ganhador de quatro prêmios Jabuti por suas obras literárias de excelência, Trevisan optou por uma vida reclusa, recebendo a alcunha de ‘Vampiro de Curitiba’, nome dado a um de seus livros mais conhecidos. Mesmo conquistando o maior prêmio da literatura em Língua Portuguesa, o prêmio Camões, esse contista curitibano optou por permanecer longe dos holofotes. Para ele, era desnecessário ser visto e idolatrado. Quanta humildade vinda de um titã da Literatura! Sua presença, por meio de suas obras, já era suficiente. Justificava sua ausência, afirmando que “a obra é mais importante do que a vida do escritor”. Abordava o cotidiano sofrido e angustiante em muitos de seus contos, empregando uma linguagem concisa e popular. Formou-se em Direito, mas preferiu ser advogado de seus personagens, tecendo situações cujas temáticas são universais. O que dizer de ‘Seu João’, de ‘Dona Maria’ e de tantos personagens, que foram construídos com o intuito de falar, por exemplo, do amor, um sentimento capaz de gerar abandono, dissimulação, traição, sedução? Os nomes “João’ e ‘Maria’ simbolizam o anonimato de quem vive nos grandes centros urbanos e, as pessoas comuns cujas trajetórias são dignas de diversos relatos. 

Como ofertava seus textos para jornais, creio que o faria para o Jornal DR1. Quem conhece sua biografia revela que Trevisan fazia as vezes de interlocutor de seus textos, como forma de criar burburinho acerca do que havia produzido. Que genial atitude! 

Seus lacônicos textos narrativos inspirados em habitantes de Curitiba criavam histórias inesquecíveis. A seleção vocabular, feita com poucas palavras nos últimos tempos, era capaz de fazer os leitores ávidos por mais textos.

As controvérsias sobre sua reclusão perdem espaço para a singularidade de suas publicações. Colecionava prêmios. O que dizer de ter recebido o prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras? Faltam palavras! Ou são desnecessárias!

Alguns indagam se sua reclusão o teria levado aos 99 anos? Não importa sabermos. A ausência física de Dalton Trevisan é só mais um detalhe, já que sua obra permanece pulsando em cada livro por ele produzido. Afinal de contas, vampiros são imortais! 

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