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Deleite Linguístico: Descomplicando o uso de verbos abundantes

Para a maioria dos usuários da língua portuguesa, conjugar verbos é uma tarefa delicada. Dentre tantos, há um caso em que as pessoas acabam cometendo deslizes. Falo do verbo no pretérito mais-perfeito composto (que acaba por emergir os temidos verbos abundantes,  assim chamados por apresentarem duas ou três formas de igual valor e função), meus caros! E antes que afirmem: “Eu não uso esse tempo!”, lamento demonstrar a vocês como ele faz parte de nossa comunicação diária. Convido-os a escolherem um dos dois verbos que estão entre parênteses, a fim de eu exemplificar casos triviais: 1) Eu tinha (impresso/imprimido) o documento. 2) As funcionárias haviam (aceito/aceitado) a oferta da empresa. Parece simples, mas a certeza de qual dos dois usar não é obtida facilmente porque numerosos verbos no particípio admitem, segundo o professor Evanildo Bechara, em sua “Moderna Gramática Portuguesa”, 39° ed. Nova Fronteira, “dois (e uns poucos até três) particípios: um regular, terminado em -ADO (1° conjugação) ou -IDO (2° e 3° conjugações) e outro irregular, […] terminado em -TO, -SO ou criado por analogia com modelo preexistente.” (Bechara, 2019, p. 250). Portanto os verbos que completam corretamente os períodos 1 e 2 são respectivamente “imprimido” e “aceitado”. A justificativa é fornecida pela magnífica, lindíssima e competentíssima Profa. Dra. Edila Vianna da Silva, uma das autoras do livro “Nova gramática para o Ensino Médio: reflexões e práticas em língua portuguesa”, Lexikon,  2017 cuja leitura se faz obrigatória aos que amam nossa língua materna. Confesso-lhes ter usado essa obra para retirar minhas dúvidas e para elaborar recursos de candidatos a cargos públicos, obtendo êxito. Explorando essa obra de referência, na página 106, é dito que o mais-perfeito composto é formado pelo imperfeito do indicativo do auxiliar + o particípio do verbo conjugado. Sei que dirão: 

– E daí? Como saber se uso “pagado” ou “pago”, já que a dúvida reside no emprego do particípio, Fernanda?

A resposta é encontrada na página 112 do livro da amiga Edila em que se lê o seguinte: “Quando o verbo possui dois particípios (pago/pagado), usa-se a forma regular na locução verbal de ação (Amanda tinha pagado a conta) e a forma irregular na passiva analítica de estado (A conta foi paga)”. 

Para corroborar, dou-lhes esta dica do prof. Bechara: em geral, os auxiliares “ter” e “haver”, na voz ativa, levam ao emprego da forma regular; enquanto os auxiliares “ser”, “estar” e “ficar”, na voz passiva, levam ao uso do particípio irregular. Creio que, sabedores dessa explicação, os desvios serão inexistentes, e todos os leitores desta coluna saberão, sem titubear, dizer “O documento foi entregue.”, “O aluno tinha entregado o texto.”, “Os imortais haviam elegido Ricardo Cavaliere para a Cadeira 8 da ABL.”. “Ele foi eleito.” Espero tê-los ajudado! 

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