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Deleite Linguístico: Dígrafo: como sinalizá-los na modalidade falada?

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Em minhas andanças, venho percebendo um barbarismo recorrente. “O que é mesmo barbarismo, Fernanda?” Nada mais é do que uma das figuras de linguagem em que desvios da norma-padrão são cometidos. Ou como descreve o amado Professor Evanildo Bechara, “barbarismo s.m. Erro palmar de grafia, pronúncia,  forma ou concordância”. “Coitadinha da Última Flor do Lácio!”. Isso sem falar em casos de solecismo, já que ouvir por aí “Fazem três dias que ele viajou” ou “Vamos no teatro?” é algo corriqueiro, independentemente do nível de escolaridade de quem fala. (Nos telejornais, muitos repórteres dão exemplos de desconhecimento de regras de concordância e de regência verbais e cometem vícios de linguagem, o que muito me preocupa, visto que muitos usuários da língua acreditam que aqueles são referência para outros falantes, pois teoricamente “dominam” a norma-padrão. Ledo engano, meus caros leitores! Em várias entradas ao vivo, nossa língua materna é maculada em falas que se afastam de um uso linguístico condizente com a profissão de profissionais da comunicação… Mas longe de mim declarar que repórteres cometem barbarismo… Acabei fazendo emprego de outra figura de linguagem, a preterição, que, segundo o Professor Azeredo, em sua Gramática Houaiss da Língua Portuguesa, consiste na afirmação de um fato, sugerindo pela forma do enunciado a sua negação”. Em outras palavras,  é o famoso “eu jamais contaria a você que Fulano foi o culpado por aquela situação”. Francamente, meus caros, quem nunca lançou mão da preterição em algum momento da vida?

Focando no emprego de dígrafos consonantais – aqueles que estudamos no terceiro ano do ensino fundamental, por volta dos oito anos -, observo que adultos, em suas falas, acabam por ignorar a regra básica de um dígrafo: ser formado por duas letras que resultarão em um só fonema (som distintivo da língua). Eis alguns: CaRRo, CHuva, soNHo, paSSado, aLHo, QUeijo, eXCeto. Ouço, por exemplo, a palavra “nascimento”, em que há o dígrafo “SC”, ter a reprodução de duas consoantes “SC”, quando o esperado é a produção do fonema /s/. Quem nunca ouviu um paciente ser chamado em uma emergência médica assim: “Sr. Leandro Na(SC)imento, sala 7!” ? Interessante é inferir que falantes não dizem “Adoro tomar banho de pi(SC)ina!” Meu sobrenome LESSA também é alvo de desvios, visto que ouço LE(S)A, como se fosse o fonema /Z/. Tudo isso me leva a pensar em estratégias pedagógicas em que se trabalhe a fonologia nos anos inciais do ensino fundamental, para que todos os usuários do Português, desde cedo, obtenham o esperado domínio dos fonemas quando há “grupos de letras que simbolizam apenas um som”, os chamados dígrafos, conforme declaram Cunha e Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo. Espero sinceramente ter despertado em vocês a vontade de analisarem falas em que há presença  de dígrafos. É uma atividade bem divertida! Eu garanto!

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