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Deleite Linguístico: O uso do gerúndio no português atual

“Vou estar lendo o Jornal DR1 semanalmente! “Senhor cliente, vou estar gerando seu protocolo!”. Essas e outras expressões que circulam diariamente geram certo desconforto a nós. Mas “O que seria esse corriqueiro fenômeno?”, perguntarão muitos. Estamos diante, Meus Caros Leitores, do gerundismo, termo criado para designar a prática de utilizar o gerúndio em excesso no discurso, de forma a se tornar um vício de linguagem, um modismo vocabular. É um hábito que o usuário da língua adquire e que, perante a linguagem padrão, é considerado errôneo. Nem direi sobre a eliminação do D final da marca de gerúndio, já que é um tal de “Estou falano com você!” e “Já estou pagano a conta!”. Vocês sabem que não estou inventano! Proteja-me, Santa Norma-padrão, de tais desvios!  

Fazendo uma viagem aos primórdios, deparar-nos-emos (Amo mesóclises!), com a etimologia do gerúndio. Para isso, aludo ao gênio Said Ali, que relata que as formas herdadas do latim são –ando, –endo e indo, conforme as conjugações a que pertencem os verbos. Já Manoel Pinto Ribeiro nos ensinou que o gerúndio equivale a um advérbio ou adjetivo: “(Amanhecendo, sairemos = Logo pela manhã sairemos; Água fervendo = Água fervente).”. Que frutífera é nossa língua! 

Acerca da formação do gerúndio na Língua Portuguesa, dou voz a Celso Cunha e Lindley Cintra, que descrevem o seguinte: o gerúndio, o particípio, o infinitivo pessoal e os dois futuros simples do indicativo são originados a partir do infinitivo impessoal. Ou seja, o gerúndio é formado pela substituição do sufixo –r do infinitivo pelo –ndo: Cantar – cantaNDO; vender- vendeNDO; partir – partiNDO. Meu amado Mestre Evanildo Bechara, no entanto, afirma que “as formas nominais do verbo se derivam do tema (radical + vogal temática) acrescido das desinências.”

Quanto à característica e ao aspecto do gerúndio no português, Cunha e Cintra afirmam que o gerúndio se caracteriza pelo processo verbal contínuo, além de poder exercer função de advérbio ou de adjetivo. Em relação ao aspecto, Cunha e Cintra dizem que o gerúndio pode exprimir um aspecto (ação) não concluído, visto por meio de uma forma simples – LENDO ou concluído, estruturado por uma forma composta – TENDO LIDO). Ademais, na linguagem popular, o gerúndio faz a vez do imperativo: Andando!, que equivale a “Vá andando!” ou “Ande!”. Com o objetivo “estar mexendo com vocês”, dou voz a alguns autores que normatizam a elaboração de trabalhos direcionados à mídia, já que eles sugerem moderação no uso do gerúndio, a fim de tornar o texto mais claro e objetivo. Dentre eles, transcrevo esta declaração de Martins Filho: “Há sempre uma forma do presente que pode com vantagem, substituir o gerúndio.” Espero tê-los ajudado a refletir que ser usuário do Português exige conhecimento; uma vez que formas, aparentemente cristalizadas, apresentam outras funções e outros significados, os quais sofreram mutações através dos tempos.

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