Essa semana, perdemos um grande nome da literatura brasileira: Luis Fernando Veríssimo. Em sua homenagem,escrevi esta crônica, já que ele me levou a deliciosas risadas com seu livro “Comédias para se ler na escola”. Diante de tantas, optei por abordar a intitulada “A bola”, em que Veríssimo narra o diálogo entre pai e filho, após este receber daquele uma bola. Nela claro fica o que eu e outros professores infelizmente constatamos diariamente: estudantes que não sabem o que fazer com toda a gama de conhecimento apresentada. “O que fazer com a bola”? “Como é que liga”? “Não vem com manual de instrução?”. Pois é, Veríssimo, assistimos a um comportamento assustador de uma geração que não sabe o que fazer com uma bola, quiçá com o conhecimento, que para eles é um “suflê de chuchu” (outra crônica desse livro)! Ao que a eles é apresentado, no máximo, dizem ”Legal “, uma prova do parco repertório lexical que possuem, embora cada um se sinta um “marajá” (outra crônica divertidíssima) e detentor de vasta sabedoria.
Tirando raras exceções, os alunos não entendem o que estão fazendo na sala de aula e focam apenas no botão para ligar o celular, aparelho que não pode faltar, em detrimento do esquecimento do lápis, da caneta, da apostila e da educação (descartada no tratamento com professores e colegas). Afinal, para que tudo isso serve se não tem botão de liga e desliga? Para que pedir aos garotos que produzam um texto se eles são apenas meros depósitos de informações que em nada agregam ao seu crescimento intelectual?
Sinto-me como aquele pai da crônica, o qual traz a bola ao filho na tentativa de resgatar o passado em que éramos estimulados a ter criatividade com objetos sem botão, sem manual. Não à toa somos levados a inferir que “os tempos são decididamente outros”, conforme declaração do pai na crônica. Embora ele tentasse atrair a atenção do garoto, pegando a bola para fazer embaixadinhas, o filho preferiu manejar, com destreza, a bola virtual do videogame, como fazem meus alunos na hora da aula. Ou vocês desconhecem a verdadeira situação que ocorre em algumas escolas? Nelas os alunos continuam a driblar a lei e seguem com o uso do celular, demonstrando que não conseguem se desprender dos joguinhos virtuais. É preciso ser reiterado que aulas expositivas são necessárias, para que o aprendizado seja compreendido e apreendido; contudo perdem espaço para uma telinha que fica dentro do caderno, cuja serventia é disfarçar o uso do celular e não ser suporte para anotações de conteúdos trabalhados em sala.
O que está faltando na escola? A compreensão de que “a bola não faz nada. Você é que faz coisas com ela”, como bem disse o pai ao filho. Creio que o VAR seria útil.
Fala-se muito em protagonismo estudantil; mas, como estimulá-lo em uma geração que só está confortável na condição de reprodutora de ações? Veríssimo quis levar os leitores à reflexão dos males da tecnologia. Por tudo isso, será sempre meu cronista favorito. “Legal”, adjetivo empregado pelo garoto da crônica, é pouco para defini-lo! Você, Luís Fernando Veríssimo, é genial!





