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Deleite Linguístico: Vírgula: use com moderação

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Atire a primeira pedra quem nunca teve dúvidas no emprego de um sinalzinho polêmico conhecido como vírgula! Sim, meus caros leitores, estou me reportando àquela palavra de origem latina cujo significado é “varinha, pequeno traço ou linha”. Acredito que muitas das confusões sobre seu uso tenham sido motivadas pela língua grega, já que a vírgula é chamada “komma“, que quer dizer “recorte” ou “dar um fôlego”. Deve ser esse tal de fôlego helênico que leva muitos usuários da Língua Portuguesa a “tascarem” uma vírgula em contextos em que o emprego desta é inadequado. Peço encarecidamente a vocês que não mais afirmem que a vírgula “é uma pausa que se dá para respirar”! Declarar isso é um desserviço e só causa danos aos que querem utilizar adequadamente essa varinha.  

Como meu objetivo é colaborar para que nossa “Última Flor do Lácio” seja melhor empregada (promessa feita ao meu professor Evanildo Bechara), deixo algumas dicas a quem precisa redigir textos. Devo antes confessar que perco o fôlego e surpreendo-me com colocações dessa varinha! Imagine, por exemplo, você se deparar com este texto, encontrado no Oráculo de Delfos (local onde se faziam profecias consideradas divinas) escritas em grego: “Ides voltarás não morrerás na guerra “. Para esse texto sem pontuação, surgem duas interpretações: 1) o homem que for para a guerra dela voltará a salvo; 2) o homem que à guerra for lá morrerá. Infelizmente o texto profetizava a morte do incauto guerreiro.  

Inferimos que era perigoso viver sem os sinais de pontuação, surgidos no início do Império Bizantino. Atualmente também há textos cujo sentido só pode ser obtido invocando o deus grego Hermes, cuja função, no Olimpo, era traduzir e interpretar as mensagens dos deuses para os homens. É sério, meus caros! Eu mesma já fiquei sem saber se meu interlocutor estava cancelando ou confirmando uma reunião comigo pela simples utilização de uma vírgula. Recebi esta mensagem: ” Não, irei”. E olhe que a ausência desse homem foi justificada por este áudio: “Mas eu disse que não iria, Nanda!” Assistindo à tevê, também vibro com colocações de vírgula. Um exemplo é este do dia 13 de março: “Tiroteio assustou passageiros, e reféns viveram 3 horas de medo”, em que a colocação da vírgula antes da conjunção “e” se justifica por esse conector ligar duas orações com sujeitos diferentes. Vocês sabiam disso? 

Antes de dizer quando usar uma vírgula, prefiro declarar em que situações esse sinal deve estar ausente.  São três as proibições: 1) nunca use uma vírgula para separar o verbo de seu sujeito, independentemente da extensão deste; 2) nunca use uma vírgula para separar o verbo de seu(s) complemento(s) verbal(is); 3) nunca use uma vírgula para separar o nome de seu complemento. Para esses casos, fiz estes exemplos: 1) Aqueles cinco dedicados alunos da turma 1901, são excelentes; 2) Comprei, vários materiais escolares e produtos de limpeza na papelaria; 3) O bolo, de chocolate ficou delicioso.  Diante desses três usos, a vírgula não poderia ser empregada. Reforço que a proibição é para o uso de uma vírgula, logo duas podem aparecer entre esses termos. Observem: 1) Aqueles cinco dedicados alunos da turma 1901, na sala, fizeram o teste; 2) Comprei, na papelaria, vários materiais escolares e produtos de limpeza. Para o último caso, não há como encaixar um termo entre o nome e seu(s) complemento(s). Espero, pois, que eu tenha esclarecido que, em se tratando de Língua Portuguesa, a cautela é sempre bem-vinda, meus leitores! Até a próxima reflexão linguística!

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