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Direito da Mulher: Do medo à coragem: trajetórias de superação e o poder da rede de proteção

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A violência doméstica permanece como uma das mais cruéis e silenciosas formas de violação de direitos humanos no Brasil. Presente em lares de todas as classes sociais, cores e credos, ela se instala sob o véu da intimidade, mascarada por rotinas aparentemente normais, onde o medo se torna rotina e o afeto é substituído por controle, agressão e silenciamento.

Milhares de mulheres vivem aprisionadas em ciclos de violência emocional, física, patrimonial e psicológica. No entanto, mesmo diante desse cenário sombrio, há histórias que emergem como faróis de esperança, histórias de mulheres que romperam o silêncio, enfrentaram o medo e reconstruíram suas vidas com apoio de uma rede de proteção que, quando funciona, salva vidas.

Vozes que ecoam para além da dor

Essas trajetórias de superação são mais do que relatos pessoais. São atos de resistência que inspiram mudanças culturais, fortalecem políticas públicas e encorajam outras mulheres a dizerem “basta”.

Luiza Brunet: da dor à militância

O ano era 2016 quando a atriz e empresária Luiza Brunet rompeu o silêncio ao denunciar publicamente as agressões sofridas por seu ex-companheiro. O caso ganhou repercussão nacional e escancarou uma realidade dolorosa: a violência doméstica atinge mulheres de todas as esferas, inclusive as que têm fama, poder aquisitivo e voz na mídia.

A coragem de Luiza foi além da denúncia. Ela transformou sua vivência em ativismo, tornando-se uma importante defensora dos direitos das mulheres. Participou de campanhas de conscientização, proferiu palestras e passou a atuar diretamente na causa do enfrentamento à violência de gênero. Seu posicionamento foi fundamental para romper estigmas e encorajar outras vítimas a procurarem ajuda.

Maria da Penha: da sobrevivência à criação de uma lei

Outro nome que se tornou símbolo de resistência é o de Maria da Penha Maia Fernandes. Após sobreviver a duas tentativas de feminicídio praticadas por seu então marido  que a deixaram paraplégica , Maria da Penha enfrentou um processo judicial que se arrastou por quase 20 anos. Sua busca incansável por justiça ultrapassou fronteiras e chegou à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Foi esse clamor internacional que impulsionou a criação da Lei nº 11.340/2006, conhecida como Lei Maria da Penha, um marco na proteção das mulheres brasileiras. Mais do que um instrumento legal, a lei representa o reconhecimento da dor feminina como questão de Estado. A trajetória de Maria da Penha revela que o sofrimento pode ser combustível para a transformação social, e que a voz de uma mulher pode ecoar em defesa de tantas outras.

A importância da rede de proteção

Nenhuma mulher deveria enfrentar sozinha a violência que a oprime. É nesse contexto que a rede de proteção é formada por delegacias especializadas, defensorias públicas, centros de atendimento, movimentos sociais e a legislação vigente. Romper com a violência é, muitas vezes, um processo longo, doloroso e cheio de riscos. Mas é também um caminho possível  e cada história de superação reafirma que, com apoio, informação e coragem, a libertação é real.

A violência doméstica não é uma questão privada. É uma chaga social. E enquanto houver silêncio, haverá sofrimento.