“Não nascemos machistas. Fomos treinados para isso. Mas também podemos nos libertar.” (Tiago Vinícius, educador social).
Não basta ensinar a menina a se proteger. É preciso ensinar o menino que amar não é dominar. O silêncio que mata mulheres é, muitas vezes, sustentado pelo silêncio dos homens. Um silêncio que mascara, que protege, que perpetua. Um silêncio que não grita por justiça, mas cochicha cumplicidade. Que não se posiciona contra o machismo e, por isso, o mantém vivo.
A fábrica de homens que não sentem
Desde pequenos, meninos escutam frases como:
“Homem não chora.”;
“Você é o homem da casa.”;
“Seja forte, seja viril.”
Esses mandamentos moldam uma masculinidade endurecida, incapaz de lidar com emoções, treinada para dominar e não dialogar. Crescem acreditando que demonstrar vulnerabilidade é fraqueza, e que controlar é uma forma de amar.
O controle como linguagem do afeto
Na cultura patriarcal, o ciúme é vendido como zelo. O controle é mascarado de cuidado. A possessividade é romantizada em músicas, novelas e filmes. O resultado é uma sociedade em que o poder sobre a mulher ainda é confundido com demonstração de amor.
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2024), 84,5% dos autores de feminicídio no Brasil eram companheiros ou ex-companheiros. A estatística revela o que a prática confirma: o lar, que deveria ser espaço de afeto, continua sendo o local mais perigoso para muitas mulheres.
Homens que romperam o ciclo
Mas há resistência. Homens que escolheram o desconforto da desconstrução. Que olham no espelho e reconhecem que foram ensinados a dominar, mas não querem perpetuar essa herança. Homens que decidiram trocar o silêncio pela voz, o controle pelo respeito, a violência pelo diálogo.
O desafio não é pequeno. Exige romper séculos de cultura patriarcal. Mas é urgente. Porque quando homens se calam diante do machismo, não estão apenas em silêncio: estão contribuindo para o barulho da violência.
É tempo de entender que masculinidade não precisa rimar com dureza, e que o amor verdadeiro nunca combina com posse. Libertar-se da masculinidade tóxica não é perder identidade, é ganhar humanidade.
Um homem que escolhe o silêncio diante da violência não é neutro: é parte dela. Quando amigos não repreendem piadas machistas, quando colegas de trabalho riem de comentários misóginos, quando pais não ensinam seus filhos a respeitar, todos reforçam a cultura que mata.
O machismo não sobrevive sozinho, ele é alimentado pela omissão. Não há neutralidade diante da violência. O silêncio dos homens tem custado a vida de muitas mulheres. Romper o ciclo é mais que um ato individual: é um compromisso coletivo. Porque amar não é calar, é proteger a vida.