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Em resposta a Bolsonaro, oposição também vai às ruas e gera aglomeração

Após criticar duramente a conduta do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que tem feito nos últimos dias passeios de moto e outros eventos com várias pessoas pelo país, mesmo com a orientação das autoridades de Saúde de manter o distanciamento social para evitar a Covid-19, a oposição se mobilizou em protesto e acabou indo às ruas fazer o que antes havia condenado: aglomerar.

Mais de 200 cidades, em todos os estados e no Distrito Federal, registraram manifestações contra o governo Bolsonaro, no dia 29 de maio. Ao longo de todo o dia, diversos grupos se reuniram para passeatas e fizeram inúmeras reivindicações. Foi a primeira vez, desde o início da pandemia, em março de 2020, que um número significativo de manifestantes contrários à atual gestão tomou as ruas, rompendo um longo período marcado por atos políticos realizados apenas por simpatizantes do governo e, com as aglomerações, quebrando um discurso sanitariamente correto.

Movimentos sociais, estudantis e sindicais, além de partidos de esquerda, agrupados em um fórum batizado de campanha nacional Fora, Bolsonaro, estiveram por trás das manifestações. Nos atos, os grupos defenderam o pagamento de R$ 600 de auxílio emergencial, verbas para universidades públicas e ampliação da vacinação contra a covid-19. Também houve protestos contra a privatização de estatais e a reforma administrativa e a favor do impeachment do presidente.

Ato reuniu milhares de pessoas em Brasília. (Foto: Reprodução/TV Globo)

Na capital fluminense, os manifestantes se reuniram em frente ao monumento de Zumbi dos Palmares, na Praça Mauá, centro da cidade. Depois, eles ocuparam três das quatro pistas da Avenida Presidente Vargas e caminharam pela via em direção à Candelária. Depois, os manifestantes entraram pela Avenida Passos, passaram pela Praça Tiradentes e Rua da Carioca e voltaram a se concentrar no Largo da Carioca.

Durante todo o ato, a maioria dos manifestantes utilizava máscaras, mas a distância de segurança necessária à prevenção do coronavírus não foi respeitada e ocorreram aglomerações. Situação também registrada em outros cantos do país. Em Recife, houve confusão entre policiais e manifestantes e dois homens perderam a visão após serem atingidos por balas de borracha disparados pela polícia. O governador de Pernambuco disse que não partiu dele a ordem para reprimir manifestantes e, três dias depois da ação, o comandante da Polícia Militar do estado pediu exoneração do cargo.

Em São Paulo, os manifestantes se concentram na Avenida Paulista. No local, organizadores fizeram distribuição de máscaras e pediram respeito ao distanciamento social, o que não aconteceu. Já em Brasília, a concentração foi em frente ao Museu da República e seguiu para a Esplanada dos Ministérios. Em frente ao Congresso Nacional, os manifestantes gritaram palavras de ordem e exibiram faixas e cartazes. A Polícia Militar não divulgou o número de participantes do ato.

Aglomerações: divergências no discurso e erro comum

Bolsonaro fez passeios em Brasília e no Rio. (Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil)

Os atos da oposição foram organizados em resposta às manifestações lideradas por Bolsonaro nos últimos dias, sobretudo à realizada no Rio de Janeiro no dia 23 de maio, que teve muita repercussão. Na ocasião, o presidente e centenas de apoiadores fizeram um passeio de moto do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca, zona Oeste do Rio, até o Monumento dos Pracinhas, no Aterro do Flamengo, na Zona Sul.

Ao mesmo tempo em que foi alvo de duras críticas, por opositores e até mesmo por apoiadores, por causar grande aglomeração em meio à pandemia e por não usar máscara, assim como a maioria dos motociclistas, Bolsonaro demonstrou também uma grande força política pela quantidade de pessoas que o seguiram. No dia 9 de maio, o presidente também realizou um passeio de moto semelhante em Brasília.

A oposição, que também demonstrou força, tem se dedicado quase que exclusivamente, desde o início da pandemia, a criticar o presidente Bolsonaro pelas aglomerações em passeatas e eventos oficiais, mas nos atos do dia 29, acabou pagando a língua e fazendo a mesma coisa, mesmo com a prévia orientação dada aos manifestantes de fazer uso de máscara e manter distanciamento. As críticas ao movimento nas ruas promovido pela esquerda, no entanto, não foram tão duras como as que recaem sobre os atos em prol do governo pela maioria dos veículos de imprensa.

Apesar da cobertura desigual pelos meios de comunicação noticiosos, que evidentemente condenam mais um lado que o outro, é importante destacar que as aglomerações, tanto da direita quanto da esquerda, que parecem ter inaugurado uma gincana sobre quem junta mais gente, acontecem num momento extremamente inoportuno, em que apenas quem sai ganhando nessa disputa é o vírus.

Momento requer a união de todos

É prudente que, numa democracia, tenhamos movimentos de apoio ao governo e também de oposição, por parte de quem discorda da forma como a gestão da coisa pública é feita, mas o momento em que vivemos, em que a pandemia ainda ceifa a vida de centenas de pessoas diariamente, não deve ser de disputas políticas entre grupos opostos que, para demonstrar força, vão às ruas se aglomerar. O momento, ao contrário, requer a união de todos para combater esse mal chamado Covid-19.

O Brasil mantém uma média alta de quase 2 mil mortes diárias causadas pela Covid-19. Desde o início da pandemia, o país já registrou mais de 16,6 milhões de casos da doença e mais de 465 mil mortes.

Adiantar a disputa eleitoral, que só acontecerá no final de 2022, não é prudente neste momento. Ir para as ruas, com motos, faixas ou cartazes, só vai complicar ainda mais a situação caótica e dar ainda mais brecha para o vírus se espalhar. Neste momento, a sociedade como um todo precisa esquecer as desavenças políticas e se voltar para combater o mau, o inimigo comum: a pandemia.

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