O pintor afro-brasileiro que construiu uma carreira marcada por paisagens
Nascido em 1840, Salvador, Emanuel Zamor era de uma família pobre, com uma mãe negra livre. Ainda criança, foi adotado pelo casal francês, Pierre Emmanuel Zamor e Rose Neveu, que vivia no Brasil. Levado e criado como filho adotivo em Paris, teve acesso à educação artística e musical, o que abriu espaço para o meio cultural europeu.De volta ao Brasil por um breve período, entre 1860 e 1862, perdeu parte de suas obras em um incêndio. Logo retornou a Paris, onde passaria o resto da vida.Na França, Zamor desenvolveu uma carreira sólida como pintor. Seu talento se destacava principalmente na representação da natureza: jardins, campos e bosques.Entre suas obras conhecidas estão: Paysage à la Ferme (1867), paisagem de atmosfera bucólica; Barcas à margem do rio (1884), em acervo do MASP; Crianças (s.d.), preservada no Museu Afro Brasil; Camarões (1916), também parte do acervo do Museu Afro Brasil.Apesar do talento, ele enfrentou dificuldades financeiras em Paris. Sem o mesmo reconhecimento que outros artistas da época, chegou a queimar algumas de suas próprias telas para se aquecer durante os invernos. Morreu em Créteil, França, no ano de 1919, praticamente esquecido, em um contexto em que artistas negros eram sistematicamente invisibilizados na Europa e no Brasil.Seu nome permaneceu apagado da história da arte por décadas, sendo redescoberto apenas em 1984, quando um lote de 37 pinturas suas foi leiloado na Christie’s, em Paris. As obras foram adquiridas e trazidas ao Brasil, ganhando exposição no MASP em 1985 e depois na FAAP, em 1990.Atualmente, Zamor é um dos primeiros artistas negros brasileiros a conquistar espaço no cenário internacional. Mais de um século após sua morte, sua obra começa a ganhar a valorização negada em vida, sendo reconhecida não apenas pela técnica, mas também pelo papel histórico de afirmar a presença negra na arte.