Foto: Paramount Pictures Brasil/Divulgação
Por Vitor Chimento
Há mais de vinte anos, da janela da casa em que mora até hoje em Miguel Pereira, na região serrana do Rio de Janeiro, Claudio Alberto Andrade de Azeredo, ou Claudio Roberto, como se apresenta, assistia o encerramento do Fantástico. Estava lá ele prestando uma homenagem ao inesquecível parceiro e amigo Raul Seixas, cantando uma das mais famosas criações da dupla: ‘Maluco Beleza’. Com ela, Claudio deixou seu nome registrado e consagrado na história da música popular brasileira.
Jornalista, carioca da gema nascido no Catete, Claudio compôs para Raul outros vários sucessos, como ‘O Dia em que a Terra Parou’, ‘Sapato 36’, ‘Abre-te Sésamo’, ‘Angela’, ‘Aluga-se’, ‘Rock das Aranha’, ‘Baby’, ‘É Meu Pai’, ‘À Beira do Pantanal’ e ‘Cowboy Fora da Lei’. É o único parceiro com quem o cantor baiano realizou um álbum completo, ‘O Dia em que a Terra Parou’, o primeiro da parceria. Além desse, participou de outros sete álbuns de Raul Seixas: ‘Novo Aeon’, ‘Mata Virgem’, ‘Abre-te Sésamo’, ‘Raul Seixas’, ‘Metrô Linha 743’, ‘ Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum!’ e ‘A Pedra do Gênesis’.
A amizade com Raul começou quando ainda eram jovens, no Rio de Janeiro, e que foi se fortalecendo com o passar dos anos, rendendo 30 composições gravadas e outras tantas inéditas. Claudio costuma dizer que o fato de serem parceiros foi só uma decorrência do fato de serem amigos. “Compreendíamos-nos muito, a ponto dos nossos conhecidos dizerem que Raul era um extraterrestre e eu era o único que falava a sua língua, tamanha a nossa cumplicidade”.
O Diário do Rio teve a grata satisfação de ter sido muito bem recebido por ele em sua propriedade. Claudio, pai de cinco filhos e avô de alguns netos, é também um grande admirador de um bom café. Ele nos deu a honra de assistirmos todo um ritual para torrar os grãos, moer e coar o café, de sabor inigualável, servido pelo nosso anfitrião. Confira agora a entrevista exclusiva!
Foto: Vitor Chimento
Como foi a trajetória do Claudio até a música?
Eu trabalhava bastante. Dava aulas particulares de Português e Inglês, fazia faculdade de Educação Física, pela manhã, no Fundão, fui o primeiro personal training que se conhecia. Eventualmente, dirigia um táxi na madrugada e ainda vendia sapatos de mocassim na Feira Hip de Ipanema, aos domingos. Um dia, chegando em casa, encontro Raul de terno à mesa com a minha primeira esposa, Márcia. Estávamos aqui conversando e chegamos a conclusão que você gasta muito tempo se dividindo entre muitas coisas. “Você trabalha muito e, então, resolvemos cortar sua carga horária a menos da metade para que você possa se dedicar naquilo em que você é bom”, disse ele. Perguntei: “O que seria isto?”. E Raul respondeu: “Música, é claro!”. Aí mudou minha vida mesmo.
Dentre todas as composições gravadas em parceria com Raul, qual a que mais se destacou?
Na verdade, a que mais se destacou é a que eu não acreditava muito, mas Raul, com sua visão e conhecimento, meio que profetizou o sucesso, foi mesmo ‘Maluco Beleza’. Fugiu do controle, tínhamos a impressão de que ela já estava feita e que nós fomos apenas o veículo.
A mudança do Rio de Janeiro para Miguel Pereira…
Já casado com Ângela, filha da atriz Isolda Cresta, resolvemos vir passar nossa lua de mel na região. Pedimos licença dos nossos trabalhos, eu como professor de natação e ela atriz de teatro. Passados 15 dias que já estávamos aqui, eu disse para a Ângela: “Você não sei, mas eu vou ao Rio buscar minhas coisas e volto para morar aqui”. Uma decisão que foi reforçada pelo Raul, que me disse: “Já que você quer ir morar no interior, esta é a hora, porque depois você não ira conseguir”. Prevendo o sucesso. Isto foi em 1977, exatamente há 42 anos.
Raul vinha com frequência a Miguel Pereira?
Não era com a frequência que gostaria que fosse. Assim como minha querida mãezinha, Raul detestava mato. Mas existe um fato bastante engraçado de uma de uma de suas vindas a minha casa. Raul era uma pessoa absolutamente impossível e difícil de encontrar alguém semelhante. Estávamos compondo havia uns três dias e quando acabou o combustível eu fui dormir. Mas Raul se recusava e resolveu sair para dar uma volta pelas redondezas com a minha matilha, cachorros de médio e grande porte. Como neste dia especialmente fazia muito frio, ele saiu com o casaco de pele de sua sogra, de um valor em dólar bastante considerável. No dia seguinte, o resultado desta saída era uma fila de vizinhos reclamando dos palavrões do Raul, das investidas dos cachorros contra os animais e a cobrança de um dos vizinhos de quatro a cinco de suas ovelhas, abatidas pelas feras. Sem contar que o casaco de pele de sua sogra estava todo estraçalhado. Foi um acontecimento!
Vocês tinham alguma regra para compor?
Vou te dar uma resposta que todo compositor te daria: não existem regras. Já aconteceu de começarmos a compor uma música por causa de uma expressão e, pode parecer absurdo, terminarmos com outra expressão.
Claudio e o atual cenário musical…
Não gosto de fazer comentários a respeito do nosso cenário musical por achar que isto seja antiético. Devemos respeitar a opinião das pessoas. Seria maravilhoso se tivéssemos a mesma opinião, mas seria muito chato. Falaríamos ou discutiríamos sobre quê?
E a banda Carbono 40?
Eu costumo dizer que família você não escolhe, você vai com ela. E Bruno, vocalista da banda, é como um irmão. Estamos fazendo algumas coisas juntos. Segundo Bruno, a amizade entre eles foi muito desejada e esperada, porque além da grande admiração pelo artista e pela sua obra, está sendo uma grande oportunidade de juntos estarem tirando do baú composições inéditas minhas.
Trabalho, música e medo…
Trabalho eu nunca gostei mais se tiver que fazer por uma boa causa trabalho até de graça. A música caiu no meu colo e é o que melhor sei fazer. Medo eu tenho de não me divertir!