Na África a escravidão se estabeleceu de forma interna quando a guerra era vencida tendo como troféu o aprisionamento do inimigo na condição de escravo.
Ao perceberem que podiam lucrar com a venda dessa mão de obra, deu-se o início à comercialização com os portugueses e espanhóis e esse comércio de escravizados trouxe profundas transformações para a escravidão na África.
A partir do século XV, o tráfico negreiro se estabeleceu e a escravidão no continente africano radicalmente mudou. A escravidão na África é uma das práticas mais antigas da humanidade, desde os tempos do Egito Antigo. Em sentido clássico do conceito de escravidão, o senhor detém o domínio sobre o seu escravo, tratando-o como sua propriedade e privando-o de sua liberdade. O destino do escravo fica totalmente nas mãos de seu senhor, uma prática que se manifestou em diversas partes mundo.
Há documentos apontando a existência de expedições militares por volta de 2700 a.C. para obtenção de escravos no Egito e na Núbia para que fossem revendidos. No Egito, os escravos poderiam ser encaminhados para trabalhos braçais pesados.
O regime de escravidão na África teve um grande salto por conta do comércio com os árabes e os europeus. Antes dessa forma de escravidão mais tradicional, no continente africano era a doméstica, na qual o escravizado era utilizado em trabalhos simples como o cultivo da terra.
A escravidão se dava, principalmente, por meio da guerra, em que uma tribo vencida em luta tinha parte de sua população escravizada. Essas pessoas aprisionadas se somavam à tribo vencedora e se juntavam ao grupo de pessoas que cultivavam a terra, pois, em diversas culturas africanas, a riqueza se media pela quantidade de pessoas disponíveis para o cultivo da terra.
Na escravidão doméstica, as mulheres e as crianças eram os principais grupos escravizados. Eram mais fácies de serem controladas e por garantirem a continuidade da linhagem pela reprodução. A reprodução e a assimilação dos escravos eram importantes nessa modalidade de escravidão porque as mulheres escravizadas se tornavam concubinas de seus senhores e os filhos delas eram integrados à comunidade, isto é, nasciam livres e garantiam a continuidade da linhagem daquele povo.
Existiam outras maneiras de obtenção de escravos, como pela punição por delitos considerados graves, como o roubo e o adultério. Esse tipo de sentença para alguns historiadores, se tornou mais comum depois da instauração do tráfico negreiro na costa africana. É importante mencionar que a escravidão doméstica africana tinha algumas características peculiares, pois dava certo grau de autonomia para o escravo e permitia que ele se casasse com outras pessoas livres e até que fosse proprietário de um lote de terra.
O comércio de escravos passou a se tornar uma atividade econômica comum e intensamente lucrativa por meio dos contatos dos árabes com os povos subsaarianos. A partir do século VIII, o norte da África foi conquistado pelos árabes, fazendo com que essa região fosse islamizada e fortalecendo laços comerciais entre muçulmanos e os povos subsaarianos.
Esses laços se davam porque os berberes (habitantes do norte da África convertidos ao islamismo), realizavam caravanas cruzando o deserto do Saara se locomovendo para diversas regiões da África subsaariana e lá trocavam diversas mercadorias, como perfumes, tecidos e cavalos, por ouro, marfim e escravizados.
Fala-se que a escravidão islâmica tenha sido responsável por cerca de sete milhões de pessoas durante 11 séculos. Entre os árabes, os escravos cumpriam trabalhos como carregadores nas caravanas, agricultores, artesãos, domésticos, entre outros. A cultura árabe não permitia a escravização de muçulmanos, portanto, essa ação era entendida como uma oportunidade para a conversão, uma vez o acesso à palavra de Alá a impediria.
A grande demanda dos árabes por mão de obra escrava, transformou a relação dos africanos com a escravidão e contribuiu para o desenvolvimento de um grande comércio no continente. Com isso a escravidão doméstica foi perdendo espaço para a comercial, sendo a obtenção e revenda escravos unicamente pelo lucro.
Continua…