Por Claudia Mastrange
A impressão que fica é que 2020 é o ano que nunca termina…. A pandemia do novo coronavírus virou o mundo – e a vida de todos – de pernas para o ar. Foram cenários inimagináveis. Países em confinamento, megalópoles vazias, milhões de mortes e a necessidade de se reinventar, para dar conta do trabalho, da família, do equilíbrio emocional. Fez falta um carinho, um abraço, a despedida de tantos que se foram e em solidão.
Ainda assim, 2021 na porta e sempre há que se ressaltar a esperança. Na vacina que nos oferece proteção e no ser humano, que hoje valoriza ainda mais cada minuto. Pedimos a alguns brasileiros que falassem sobre o que viram em 2020 e no que tem esperança para 2021.
Paula Tanga, diretora da ONG Afrotribo, que trabalha com empoderamento de jovens negros da periferia de São Gonçalo, diz que o tempo a quem amamos é precioso. “Eu vi que somos todos vulneráveis, diante dessa pandemia Percebi, o quão pouco tempo dedicamos a nós mesmo aos nossos amigos aos nossos entes queridos Tenho esperança em pessoas melhores em 2021 , pessoas com amor a vida ao próximo”.
Muitas dificudades ainda virão, mas o otimismo move a vida. “Acredito que a maioria de nós espera para 2021 um mundo cheio de paz, cura e muita empatia “. Que venha 2021!
O QUE VAMOS LEMBRAR DE 2020
Por Profº Dr. Babalawô Ivanir dos Santos
Com certeza o ano de 2020 ficará guardado na memória coletiva social, política e religiosa de todas as sociedades, nacionais e internacionais!Iniciamos a segunda década do século XXI esperançosos e cheios de sonhos por uma sociedade mais justa, menos intolerante onde nossas diferenças pudessem ser a base das nossas construções sociais e não o motor e o desencadeamento de uma série de violências físicas, patrimoniais e psicológicas.
Mas o ano que prometia ser de esperanças foi pouco a pouco sucumbido pelas incertezas, pelo medo do invisível. Era a tal viagem desejada, era o início de um novo trabalho, de uma nova jornada para muitos que nem chegaram a gozar da felicidade do novo. Aos poucos fomos tomados pela insegurança de possivelmente não estarmos seguros em nossas casas, entre nossos familiares e redes de amigos! A pandemia da Covid-19 escancarou as mazelas brasileiras, evidenciou os abismos sociais que forjam relações e condicionam a nossa população a viver em condições de pobreza.
Assistimos os inúmeros desgovernos em torno de uma questão que deveria ser de responsabilidade primeira, a saúde da população! Assistimos a eclosão dos casos de racismo, intolerância religiosa, violência de gênero, o crescimento assustador dos casos de extermínio de jovens negros dentro das comunidades e favelas brasileiras, o desmatamento e queimadas na Amazônia.
Mas mesmo diante de tudo o que passamos, precisamos ter Fé. Com certeza, o 2020 será lembrando pela luta em prol das vidas, pelas lutas antirracismo, pelas lutas pela igualdade de gênero, pela luta contra a intolerância religiosa. E as frases “Vidas Importam”, “Vidas Negras Importam”, “Liberdade Religiosa” e “Liberdade de Gênero”, jamais poderão cair no esquecimento coletivo, pois representam as potências dos nossos anseios paras as próximas décadas! Mas mesmo assim, mantenha a fé …
A DOR E O VALOR DA SOLIDARIEDADE
Carolina Rodrigues Ribeiro
Graduada em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e pós-graduada em Ciência Política pela Universidade Candido Mendes.
Mais um ano vai chegando ao fim e a sensação do mundo todo parece ser de alívio. Ano de angústias, lágrimas e lutos, 2020 testou nossa resistência, mas também nos deixou muitos aprendizados.
Enquanto fomos acometidos pela dor das perdas, pela indignação ante episódios de descaso político, pela revolta causada pelo negacionismo de alguns, recebemos lições sobre o valor do compromisso social na manutenção da vida – algo tão imprescindível em tempos de acirramento do individualismo.
Assolados pela maior crise sanitária da história, todos os países do globo se igualaram, juntando forças para atravessarmos juntos à pandemia. A lição maior foi de mutualidade: todos expostos ao inimigo invisível do vírus, somamos forças em um pacto coletivo pela vida.
Desde as comoções globais em torno da criação da vacina, passando pelos esforços dos incansáveis profissionais de saúde, chegando à rede de apoio comunitária criadadiante dos limites impostos pelo isolamento, 2020 nos ensinou sobre o valor da solidariedade na construção de uma sociedade mais justa e mais humana.
A história, mestre da vida, nos mostra que todo evento traumático vivido pela humanidade deixa um legado de aprendizados que possibilita grandes transformações, sobretudo em âmbito social. Às vésperas do fim de um ano tão difícil, a esperança que nos lança a 2021 é fruto desse movimento de transformação social oportunizada pelos desafios impostos pela pandemia do novo coranavírus. Cara a este desafio geracional que nos foi imposto,essa transformação pauta-se na noção de comunidade, no fortalecimento do compromisso individual voltado ao bem de todos – valores perdidos ao longo do tempo.
É TUDO PRA ONTEM
Julio Claudio da Silva Escritor e professor da Universidade do Estado do Amazonas
Os conceitos de “homem cordial”, de Sérgio Buarque de Holanda (“Raízes do Brasil”), e “democracia racial”, de Gilberto Freyre (“Casa Grande e Senzala”), são formulações teóricas da sociologia ensaística brasileira. Essas duas obras dos anos 30 são marcos da reflexão sobre a identidade nacional brasileira.
No século XXI, pensadores negros como Djamila Ribeiro (“Pequeno Manual Antirracista”), e Silvio Almeida, (“Racismo estrutural”), publicam obras com amplo alcance e repercussão social, nos fazendo repensar fenômenos sociais recorrentes, como o racismo estrutural brasileiro, muitas vezes materializado através da ação policial. Sobre o monopólio da violência, por parte dos Estados em países capitalistas, o filósofo camaronês, AchileMbembe, cunhou o conceito de Necropolitica. Por sua vez, a necropolítica, apresenta-se no Brasil sob o conceito de “excludente de ilicitude” ou na linguagem vulgar, “policial que não mata não é policial”, “é pra mirar na cabecinha e pá”.
No Rio de Janeiro, em 2020, a necropolítica ceifou o futuro de doze crianças e adolescentes, negras e pardas, indicando que o extermínio da população negra, alcança a tenra idade. Qual perigo oferece três crianças de 4 anos atingida por “balas perdidas” ou porquê João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, foi alvejado dentro de casa em cujas paredes contou-se 72 duas marcas de tiro?
Contudo, no ano de 2020 houve um salto qualitativo da pauta do respeito às diversidades. Jovens talentosos sagraram-se campeões, moral ou de fato, em reality show ou festivais. Através do brilho e competência, Thelma Assis, Babu Santana, JojoTodynho, Vitor Alvez,
Fotos: Arquivo pessoal