Por Claudia Mastrange
Um das questões que o carioca mais leva em conta quando pensa em tirar o carro da garagem e ir a algum local onde tenha que manter o carro algumas horas em um estacionamento é o valor extorsivo que certamente terá que desembolsar. Com os costumeiros problemas para se utilizar o transporte público, o cidadão, ao circular pelo Rio ou buscar um programa de lazer, opta pelo conforto do carro, mas, além e se deparar com a falta e vagas, ainda encara os valores, por vezes surreais, para estacionar seu veículo.
Locais que prestam serviço, como supermercados, inclusive, não deveriam pesar a mão no preço, já que o cliente vai consumir, o que já justificaria a ocupação de uma vaga. Mas nem sempre é assim. Normalmente exige-se um consumo mínimo. No Walmart, no Cachambi, é preciso consumir R 50 para obter liberação do valor de estacionamento por quatro horas.
Os shoppings também metem a mão no bolso do consumidor. No Norte Shopping, em Del Castilho, a cortesia para estacionamento é de 15 minutos. Difícil é saber o que se consegue fazer nesse exíguo tempo em um shopping. Entre o tempo de 15 minutos e 2 horas, o valor da tarifa é de R$ 14. Após três horas de permanência, o acréscimo é de R$ 2 por hora. Respondendo a reclamação de um cliente a respeito da tarifa que considerou cara no site ‘Reclame Aqui’, o shopping declarou que “o atual modelo de cobrança de estacionamento está em conformidade com decisão proferida pelo Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro”.
Pois é, foco no lucro por parte dos empresários não combina com bom senso. Afinal, se levarmos em conta que, quanto mais tempo se passa dentro de um shopping, maior a tendência em consumir, talvez a lógica mandasse reduzir e não aumentar os valores a serem pagos. No caso de supermercados, os estacionamentos deveriam ser liberados, mediante compras de qualquer valor. Em locais privados, como shoppings, também seria razoável a gratuidade, mediante compras em um valor médio de R$ 50.
E o que dizer dos aeroportos? No Santos Dumont e no Internacional Tom Jobim o preço mínimo é R$ 23. Já nos estacionamentos particulares em geral, como os do Centro do Rio, é necessário pagar R$ 10 por duas horas de uso e mais R 10 por cada fração de 15 minutos além do tempo adicional. Uma alternativa razoável seria cobrar cerca de R$ 5 por cada hora cheia a mais.
Com o objetivo de minimizar abusos e prejuízo para o consumidor, foi regulamentado o projeto de lei o vereador Carlos Eduardo (SD), que determina que o cidadão que use estacionamentos particulares na cidade do Rio e não utilize o veículo durante o total que foi pago, fique com crédito para usar depois o tempo restante. Mas uma liminar de 7 fevereiro, concedida à Associação Brasileira de Shoppings Centers (Abrasce), impediu a aplicação da lei.
Rio sem empresa para controle de vagas nas ruas
E enquanto as empresas privadas faturam com estacionamento, a Prefeitura também não desata o nó e, há seis anos, não tem de fato uma empresa controlando as vagas nas ruas. Resultado: o cidadão fica à mercê dos flanelinhas. Em 2013, na gestão Eduardo Paes, foi suspenso o contrato com a empresa Engepark, vencedora de licitação, ainda no governo César Maia, para administrar as 9.094 vagas do Rio Rotativo. O motivo: inúmeras reclamações em relação ao serviço prestado.
Há um ano, o prefeito Marcello Crivela anunciou que o sistema passaria a ser responsabilidade da empresa RioParkin, que prometeu implementar um modelo que inclui revisão das tarifas, divisão da cidade em três zonas com também preços diferenciados e a digitalização de todo o sistema. Com isso, os pagamentos seriam feitos via aplicativo e haveria um controle maior, não só os valores pagos, como da real limitação no tempo de uso das vagas, garantindo que elas fossem realmente ‘rotativas’.
O início do serviço esbarrou, no entanto, em uma peleja judicial, já que a empresa que venceu a licitação não cumpriu os requisitos, foi desclassificada e entrou na Justiça. A segunda classificada deve assumir, mas a Secretaria Municipal de Transportes ainda não tem previsão para a o inicio da implantação do sistema. Enquanto isso, o cidadão se ‘vira nos 30’ para dar conta e pagar a conta…
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