Pesquisadora da USP, Ester Cerdeira Sabino tornou-se um dos maiores nomes da ciência brasileira ao liderar o sequenciamento do Coronavírus em tempo recorde e transformar sua trajetória em símbolo de resistência e inspiração.
Nascida em São Paulo, em 1960, Ester Cerdeira Sabino formou-se em Medicina pela Universidade de São Paulo (USP) em 1984 e especializou-se em pediatria. Ainda jovem, descobriu na imunologia o caminho que guiaria sua carreira. Concluiu doutorado na própria USP, com estágio na Universidade da Califórnia, em São Francisco, e logo passou a se dedicar ao estudo de doenças infecciosas, HIV e doenças tropicais, áreas essenciais para a saúde pública brasileira.
Durante os anos 1990 e 2000, Ester coordenou projetos de segurança transfusional e Doença de Chagas, e ajudou a formar uma nova geração de pesquisadores no Instituto de Medicina Tropical. Desde o início, destacou-se pela visão de que ciência deve ser construída com constância, infraestrutura e investimento, princípios que viriam a definir o maior feito de sua carreira.
O sequenciamento que mudou o rumo da pandemia
Em fevereiro de 2020, o Brasil registrou o primeiro caso de COVID-19. Em menos de dois dias, a equipe liderada por Ester Sabino conseguiu realizar o sequenciamento completo do genoma do vírus SARS-CoV-2, um feito que colocou o país entre os primeiros do mundo a mapear geneticamente o Coronavírus.
A rapidez do trabalho surpreendeu a comunidade científica internacional. Enquanto outros laboratórios precisavam de semanas, a equipe brasileira concluiu a tarefa em 48 horas. O resultado permitiu identificar mutações, rastrear linhagens e contribuir para estratégias de controle e vigilância da doença.
“Conseguimos agir rápido porque já tínhamos experiência com outros vírus. Ciência é construída com tempo e continuidade, não apenas em momentos de emergência”, explicou a pesquisadora. A frase sintetiza sua crença de que o Brasil só se tornará competitivo em ciência se investir continuamente em pesquisa e tecnologia.
Reconhecimento e legado
O impacto do trabalho de Ester Sabino foi imediato, tanto científico quanto simbólico. Em 2020, ela e sua colega Jaqueline Goes de Jesus foram homenageadas pela Mauricio de Sousa Produções, que as transformou em personagens da Turma da Mônica, inspirando meninas e jovens cientistas.
Nos anos seguintes, vieram inúmeros reconhecimentos: foi eleita membro titular da Academia Brasileira de Ciências, recebeu o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Guarulhos e teve seu nome associado ao Prêmio Ester Sabino para Mulheres Cientistas, criado pelo governo paulista em 2021.
Apesar das conquistas, a pesquisadora mantém uma postura crítica sobre o cenário da ciência nacional. Para ela, a falta de financiamento constante e a dependência de insumos importados dificultam o avanço da pesquisa no país. “Sem previsibilidade, não há ciência sólida”, costuma alertar.
Hoje, Ester Sabino segue atuando na USP e em redes internacionais de vigilância genômica, estudando vírus emergentes e doenças tropicais. Sua trajetória é prova de que a ciência brasileira tem potencial para estar entre as melhores do mundo, quando há investimento, planejamento e vontade de fazer a diferença.


