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Estorvo e poder

Tão grande é a ilusão da individualidade, tão grande o engano do indivíduo que considera seus hábitos muito próprios, específicos, raros, diferentes e especiais, que o espanto acomete os incautos arautos da notícia : todos são muito diferentes, mesmo; mas essa diferença é um resultado de muitas e muitas escolhas que, não raro, são resultado
do que muitos denominam acaso.

O poder é a capacidade de fazer algo, qualquer coisa. Se escolho uma forma de fazer cada uma das coisas que faço é porque a considerei melhor, após testá-la com minha experiência; acontece que não deveria me apegar emocionalmente a ela : este apego gera o que muitos chamam de “EGO” que é o agregado de emoções, ideias, sentimentos que são os resultados dessas escolhas feitas pelo sujeito.

Independentemente de quão seguro o sujeito se manifeste quanto às diferenças de hábitos, ideias, comportamentos entre ele e os demais, é evidente que pensa ser o que escolheu para ele melhor. Daí vem o erro de confundir esse melhor com um melhor universal e considerar
que, pelas escolhas dos outros serem diferentes das dele, essas escolhas
estão erradas.

Quando o indivíduo se descobre acompanhado nas escolhas especiais que fez para sua vida; descobre que existe mais alguém no raro mundo onde se pensava sozinho, escolhendo de forma similar a ele.

Isto o faz sentir bem, faz com que esse outro seja bem considerado, gente boa, pessoa de bom caráter, da melhor qualidade. Mesma ilusão, mesmo desvio. Mas este sustenta o outro : se algo me dá poder e estorvo, como me dá um poder, um prazer, uma sensação boa, já estou sendo ‘pago’ pelos momentos ruins que passarei. Na verdade, como o
indivíduo provavelmente vai se cercar de pessoas que cultivam as mesmas ilusões e adoram as mesmas imagens, o grupo vai se achar especial junto, escolhendo viver entre os melhores, os que conferem
poderes uns aos outros pela confirmação de que suas ideias acerca das
coisas são mais interessantes e verdadeiras, pela valorização e exaltação da sua companhia e semelhanças.

Há que se ter, para aprender a sabedoria desse Poema Zen, coragem…
muita coragem e ao menos uma vida inteira… :
“O caminho perfeito carece de dificuldades
Exceto a de se negar a admitir preferências
Só quando se libertou do ódio e do amor
Revela-se plenamente e sem disfarces
Uma diferença de um décimo de polegada é
O que separa o céu da terra.
Se o quiseres ver com teus próprios olhos, não
Deves ter pensamentos fixos nem contra nem a favor”.

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