Em meio aos reveses da crise climática no mundo, entramos em um dos pontos críticos do problema, no coração do Brasil, com a questão da floresta amazônica. O desmatamento e as constantes queimadas da Amazônia preocupam ambientalistas de nações mais desenvolvidas que veem tal devastação como meio de aceleração do efeito estufa em níveis dantescos.
As queimadas, por exemplo, vêm a partir da prática ilegal da grilagem. Com a apropriação indevida de terras, posseiros recorrem a queimadas como meio de limpar a terra para pecuária, ameaçando a sociobiodiversidade dos biomas da região. Como consequência disso, o volume de chuvas na região diminui drasticamente, levado à seca e criando condições para a propagação de incêndios. No processo, vapores naturais carregados pelos ventos transformam-se em fumaça e fuligem. Interessante observar que naquilo que ambientalistas veem como práticas de (auto)destruição, a população local vê como práticas de subsistência. Assim, a grilagem na agropecuária, junto a garimpagem, mostra-se mais vantajosa do que qualquer lei de preservação do meio ambiente. Nesse lapso de informação entre o que nos favorece e o que nos compromete se coloca a agnotologia.
A agnotologia é uma ciência recente que investiga sistemas de produção e manutenção da ignorância de modo estruturado. A desinformação se espalha muito rapidamente pela mídia, mantendo a população longe das fontes fidedignas de conhecimento. Em uma ponta, existe um segmento da população leiga e passiva sobre a informação recebida; no outro lado, cientistas e especialistas, alguns vendidos a ideologias de mercados, outros reféns de tecnicalidades da linguagem e incomunicáveis fora do âmbito de sua especificidade. O resultado, no caso da crise climática, é uma explosão de informações muito diversas que nos atinge como um tsunami: de forma repentina, esvaindo-se rapidamente sem tempo de saber de onde vem e a que veio. Ao final, é um salve-se quem puder: não se sabe se a informação retida vai te esclarecer ou te afundar no breu da ignorância.
E como escapar dos efeitos nocivos de ambos? Vou recorrer à sabedoria de nossa querida Mafalda: “Viver sem ler é perigoso, te obriga a crer no que te dizem.” Obviamente, ela se referia à leitura de bons livros. São estes ainda que podem nos salvar de uma vida desgovernada no fluxo de palavras vãs.