O episódio em torno do jogador do Real Madrid, Vinicius Junior, vítima de xingamentos racistas durante uma partida contra o Valencia, chamou a atenção do mundo no último domingo (21). A xenofobia declarada vai de encontro com valores mais caros para o esporte como respeito e empatia pelos adversários e espírito de equipe. Além disso, o tipo de discriminação e violência sofrida pelo jogador brasileiro sinaliza o ódio e a intolerância ainda presentes em nossa sociedade como estigmas de um passado de lutas inglórias do colonialismo eurocêntrico.
Num mundo onde se preza cada vez mais as diversidades cultural e racial como os novos patamares democráticos de construção de valores sociais, o incidente ocorrido pode representar uma ameaça de retrocesso aos parâmetros de convivência social nos moldes de uma autocracia racial. Muito comumente, tais características mostram-se sistêmicas em regimes totalitários como foi no caso do franquismo (1939-1976) no país em questão. Não por acaso, a perseguição de minorias fez parte de seu programa político. Talvez, após quase 50 anos, seu legado se mantenha vivo.
Ainda que o incidente pareça isolado, devemos atentar para o fato de que o Brasil não está de todo isento do ocorrido na Espanha. Não podemos nos esquecer que ainda nos encontramos em luta contra o racismo estrutural, o qual teve sua origem no processo de colonização e escravização da população indígena e africana. Guardadas as devidas proporções, podemos dizer que o racismo ainda vigora enraizado, de forma geral, nas instâncias sociais aqui e além-mar.