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Ética e Cidadania: Mudanças políticas e geopolíticas tornaram o Brics anacrônico. 

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O termo acrônimo Bric, criado em 2001 pelo economista Jim O’Neill, tinha o intuito de chamar a atenção para a emergência do Brasil, Rússia, Índia e China – com a posterior adesão da África do Sul em 2006. Apesar do crescimento substancial de seus membros na primeira década de sua existência, entre 2011 e 2022, Brasil e Rússia tiveram um crescimento modesto em face a um crescimento econômico mais significativo de seus parceiros. Some-se a isso a intensificação da rivalidade de Moscou e Pequim com potências ocidentais democráticas a partir da concentração de poder de seus líderes. Isso dito, torna-se claro que tensões geopolíticas por centralizações políticas e rivalidades econômicas anularam o propósito inicial do Brics.  

     No ano passado, houve a adesão do Egito, Etiópia, Indonésia, Irã, Arabia Saudita e Emirados Árabes Unidos. Com a composição de um bloco tão heterogêneo e mesmo de rivais econômicos, faz-se pertinente perguntar: qual o propósito da cúpula do Brics no Rio de Janeiro?  Ainda assim, os líderes do crescente grupo Brics de nações ditas em desenvolvimento colocaram em pauta discussões que defendem, entre outras coisas, o comércio multilateral diante da crescente tendência protecionista, especialmente por parte dos EUA. Algumas “más línguas” dizem ter sido o principal propósito do Brics a pressão do atual presidente Lula sobre o banco do Brics para ajudar a Argentina e assim consolidar um acordo comercial com a União Europeia. Se foi o caso, isso não explica a esquiva do presidente Lula ao diálogo com o presidente da Argentina Javier Milei na última cúpula do Mercosul no dia 3 de julho. Tampouco, nesse contexto, se justifica a sua visita à ex-presidente Cristina Kirchner, representante da oposição, no mesmo período. 

     São tais inconsistências, mais do que propósitos, que parecem compor o panorama atual do Brics. Como uma alternativa à ordem unipolar e hegemônica de países desenvolvidos com vistas a um desenvolvimento socioeconômico sustentável de seus membros, o Brics pode manter-se em campo em favor do crescimento econômico dos países do grupo. No entanto, nos quesitos democracia e direitos humanos, o Brics possui desafios: a permanência de certos países membros que mantêm a ditadura, com sua concentração de poder e desigualdades sociais, como contraponto aos princípios e propósitos originários do Brics.